Bolsonaro: esfinge política ou amador errático?

Vocês viram que ninguém quer fazer acordo comigo. O meu apoio é o povo. Eles podem ter muita coisa, mas não têm o carinho e a consideração de vocês”.
Jair Bolsonaro, a militantes que o aguardavam no aeroporto de Goiânia, 19/07.

Nada é simples e linear quanto se trata de tentar entender a cabeça do deputado-capitão Jair Bolsonaro em sua ambição para chegar ao Planalto. Se Lula preso é a grande incógnita visível da campanha – como fechar alianças com quem, mesmo liderando as pesquisas, pode se tornar inelegível? -, outro enigma menos compreendido, mais muito relevante, é a relação de Bolsonaro com os partidos políticos. Franco-atirador da campanha, sucesso nas redes sociais – todo mundo fala dele, bem ou mal, mas fala -, Bolsonaro posa de antípoda entre os candidatos, mas sabe que no subsolo de sua candidatura negocia-se o apoio possível a sua chapa. Não ignora que precisa desses apoios, mas, quando isso lhe favorece, posa para o eleitorado como outsider. Com a reputação da classe na lama, dizer que os políticos estão fugindo dele é uma narrativa positiva. O capitão vira o cara que não se mistura com “essa corja”. A gente sabe que não é verdade, mas foi com um marketing parecido que, nasceu, há três décadas, um caçador de marajás.

Advogada Janaína Paschoal.

Numa leitura simplista, Bolsonaro está em dificuldades – e é o que entende e narra a maior parte da mídia e dos analistas políticos. Candidato à Presidência da República pelo inexpressivo PSL, estaria politicamente isolado, às vésperas das convenções partidárias. Alianças, é sempre bom lembrar, significam mais tempo de TV – e hoje Bolsonaro e seu PSL estariam restritos a oito segundos por bloco. Nas últimas horas, foi esnobado duas vezes. O PR, partido do ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto e integrante do “blocão” (45 segundos de tempo na televisão, um ativo preciosíssimo), desistiu de uma aliança, pela qual forneceria o vice da chapa. Bolsonaro abraçou, então, o general da reserva Augusto Heleno, filiado ao minúsculo PRP (4 míseros segundos). Mas o PRP também recusou o convite para ser o vice. A imagem que fica é que ninguém quer a companhia de Bolsonaro, mesmo sendo ele o líder nas pesquisas quando Lula é retirado da disputa. Se sair com “chapa pura”, poderá fazer da advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do processo de impeachment de Dilma Rousseff, sua vice.

Nos próximos dias, Bolsonaro reforçará o discurso de que está sozinho porque prefere ficar longe dos políticos corruptos, que só querem saber de vender seu tempo de televisão na eleição. Em Goiânia, o deputado  ironizou a falta de acordo para conseguir alianças eleitorais. “Eu não quero apoio para 2018, não. Quero para 2022, porque 2018 já era”, afirmou o militar reformado, em tom jocoso, após ouvir de aliados que ele “já estava eleito” neste ano. Sim, é a saída que lhe resta e pode ser eficiente para seu eleitorado cativo, em uma eleição onde se espera um voto de protesto maciço. E Bolsonaro espera capturar muitos dos que hoje dizem que vão anular seus votos, votar em branco ou engordar as abstenções, que prometem quebrar recordes. Além, claro, de roubar nacos de eleitores de Alckmin e Ciro, entre outros.

E essa é a leitura subliminar, que só parte da mídia consegue antever hoje. E que pode estar certa ou errada. Por essa lógica, nessa eleição mais do que atípica, o importante não é dispor do tempo para expor ideias e projetos. Ele evita até confirmar presença nos debates televisivos, onde seria submetido a um confronto robusto e exposto às próprias contradições. O importante para ele, por esse raciocínio, é tornar-se o tema inevitável da campanha. O cara de quem todos falam nas redes sociais. Helio Gurovitz, no G1, resumiu isso em uma frase forte: “Assim como Lula quer transformar a campanha num plebiscito sobre sua prisão, o objetivo de Bolsonaro é torná-la uma espécie de referendo entre ele e o “sistema”, representado por todos os demais candidatos”. Nesse ponto, assemelham-se as campanhas de Bolsonaro e Trump – que, contra todas as previsões, dominou o Partido Republicano e depois o favoritismo da rival Hillary Clinton. Bolsonaro só precisa que façam o jogo dele. E estão todos fazendo.

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