Ao invés de pendurar as chuteiras, Temer resolve calçá-las

Foto Divulgaçao/PR

“É hora de acreditar na força da camisa verde e amarela, no talento de nossos jogadores, na tradição da única seleção, convenhamos, pentacampeã do mundo”.

Michel Temer, sempre fluido com as palavras, em trecho do vídeo nas redes sociais

Era mesmo difícil acreditar que Michel Temer, aconselhado por seus marqueteiros, não fosse tentar pegar alguma carona na passagem do Brasil pela Rússia. Não acredito, realmente, que ele tenha ilusões que isso vá melhorar sua popularidade, até porque Temer terá sido tão responsável por uma eventual vitória da seleção quanto a Estátua de Lênin em Moscou – que, aliás, teve o pedestal coberto pela estrutura da loja oficial de produtos do mundial. Mas sempre há aquela esperança de que, conquistado o Hexa, os jogadores – ou parte deles – ouça o canto da sereia e resolva levar a taça até o Palácio do Planalto. Tite já disse que está fora. A imagem de Temer segurando a taça seria tão visceral quanto um gol contra. Mas ele está tentando emplacar o meme do ano.

Em vídeo de um minuto postado nas redes sociais, com o terninho justo de sempre – nem a gravata é amarela ou verde, meu Deus! – e bandeiras do Brasil ao fundo, Temer, circunspecto, disse que é hora de acreditar na camisa verde e amarela. “Nesta hora”, ele afirma, “desaparecem todas nossas diferenças e todos estaremos juntos na mesma torcida”. Em meio a uma campanha eleitoral que conflagra as principais forças políticas, e é mais fácil ver chute na canela e carrinho por trás do que apertos de mão, a frase soa, no mínimo, ingênua.

Uma foto de Temer segurando a camisa da seleção, a 10, com o seu nome – feita em junho de 2014, época da Copa no Brasil, viralizou – mostrou que trata-se de um autêntico pé frio. Nos últimos dias, a foto virou meme nas redes sociais. O mínimo que se lê nas montagens é “Fora” Temer. Sabe-se que, em abril de 2012, o então vice-presidente Michel Temer foi presenteado com camisa da Seleção Brasileira pelo então presidente da CBF, José Maria Marin. Já em setembro do ano passado, Temer presenteou o presidente Xi Jinping com uma camisa da Seleção Brasileira com o nome do estadista chinês. Também tem feito sucesso uma foto recuperada de Maradona segurando o manto da seleção brasileira, com o nome Lula estampado. Não é montagem.

Só Temer e seu grupo palaciano parecem não perceber que o presidente simplesmente não entra dentro das chuteiras que quer calçar. Algumas das últimas fotos esportivas, digamos, de Temer, feitas em janeiro, viraram meme. Nos primeiros dias do ano, depois de passar por alguns procedimentos cirúrgicos, colocou tênis, calça e camiseta Nike, cercado por seguranças e parecendo usar uma cinta, que estufou seu estômago, caminhou pelos jardins do palácio. Algum tempo depois, posou caminhando entre os palácios do Jaburu e Alvorada. Ao seu lado, o rechonchudo Rodrigo Maia. Em dado momento, passou por visitantes dos palácios e ouviu gritos de “golpista, ladrão e bandido”. Os vídeos viraram campeões de audiência nas redes.

A verdade é que Temer não deveria calçar chuteiras, deveria pendurá-las, de vez.

Da cela – Enquanto isso, o jornalista José Trajano, ex-ESPN, que tem nas redes sociais um programa de esportes, o Ultrajano, com 70 mil seguidores, anunciou um novo comentarista para o seu canal: Lula. Ele mesmo. O ex-presidente, corinthiano e doido por futebol, vai comentar a Copa do Mundo em conjunto para a TVT, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (Canal 44,1 HD), e a Rádio Brasil Atual 98,9. Estréia segunda, 17, depois da estréia do Brasil na Copa, no domingo. Ele enviará comentários da cadeia, por escrito. “Ele vai escrever as suas impressões, manda pra gente, a gente coloca na tela com aspas. Você vai poder ler e ouvir na voz de um locutor”, explicou o jornalista em um vídeo.

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