A aposta de Lula, o esquenta de Haddad e a esperança na militância

Foto Ricardo Stuckert/PT

“Sou vítima de uma caçada judicial que já está registrada na história. (…) Cada um de vocês terá que ser Lula fazendo campanha pelo Brasil. (…) Não pretendo morrer, não cogito renunciar e vou brigar pelo meu registro até o final. Não quero favor, quero Justiça. Não troco minha dignidade por minha liberdade”.
Trecho da “Carta ao Povo Brasileiro” de Lula, lida por Fernando Haddad para a militância na frente do TSE, logo após o registro de sua candidatura

Não é o ato final, longe disso, mas foi um round decisivo – e esperado – na luta estratégica e arriscada de Lula e do PT para viabilizar uma candidatura que chegue com forças ao provável segundo turno, que promete confrontar forças da esquerda e da direita na terra do Sol, de Moro, de Dodge e de Cármen Lúcia. O Partido dos Trabalhadores registrou no Tribunal Superior Eleitoral o ex-presidente Lula como seu candidato a um terceiro mandato e Fernando Haddad como vice. Os documentos do pedido de registro foram protocolados às 17h10 e foram os últimos a ser entregues entre os 13 candidatos ao Planalto. Diante de uma platéia de militantes que marchou até Brasília para testemunhar o fato – cerca de 50 mil pessoas, segundo os manifestantes, e 10 mil segundo a PM de Rodrigo Rollemberg, que apoia Ciro Gomes -, o registro foi brandido por Haddad como um troféu.

Haddad, ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff, da deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB), que será vice da chapa após a Justiça eleitoral decidir sobre a candidatura de Lula, entre muitos outros, leu uma “Carta ao Povo Brasileiro” em que Lula novamente se diz vítima de uma armação e de uma condenação sem provas apenas para tira-lo da disputa ao Planalto.

Senadora Gleisi Hoffmann, ao lado de Dilma Rousseff discursa no protesto organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em frente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contra sua inelegibilidade.

Espera-se um aumento das manifestações convocadas pela frente liderada por PT-PCdoB-CUT-MST a partir de agora, especialmente depois que Lula, repetindo o discurso que fez pouco antes de ser preso, afirmou que “enquanto estiver preso, cada um de vocês será a minha perna e a minha voz”. Foi menos um ato político e mais uma convocação de guerra.

O ato em frente ao TSE, liderado por Haddad – já que Lula segue preso desde abril e, em tese, inelegível pela Lei da Ficha Limpa, o que ainda não foi declarado pelo TSE -, foi mais um esquenta para o ex-prefeito de São Paulo. “Nós estamos muito satisfeitos (…) de termos chegados unidos até aqui em torno da liderança do presidente Lula”, discursou Haddad. Ele terá, em breve, a tarefa de liderar a chapa Haddad-Manu, que espera contar com forte transferência de votos de Lula. Não há um consenso nem dentro do PT se Haddad conseguirá cumprir essa missão hercúlea, mas não há mais como recuar a essa altura. Nenhuma pesquisa de intenção de votos, até agora, registrou essa migração de votos, porque aguardavam o registro da chapa, mas as próximas já geram grande expectativa.

A partir de agora, a análise da candidatura de Lula pelo TSE pode ocorrer em duas frentes, que acontecem simultaneamente: um ato de ofício por parte de um dos próprios ministros da Corte ou a impugnação por um elemento exterior, seja ele candidato, partido ou Ministério Público Eleitoral. Na primeira hipótese, a candidatura de Lula pode ser barrada já nos próximos dias. A partir desse momento, o ministro do TSE que ficar responsável pela ação de Lula poderá apresentar uma decisão monocrática barrando a candidatura do ex-presidente. Também dentro do roteiro, Gleisi Hoffmann confirmou que a certidão criminal de Lula entregue ao TSE é a do domicílio eleitoral do petista – ou seja, do estado de São Paulo. Desta forma, a certidão não inclui as condenações de Lula na Operação Lava Jato, que foram dadas por tribunais da região Sul. Isso pode dar discurso para a chapa, mas dificilmente mudará seu destino.

Em tempo: Sérgio Moro adiou o interrogatório de Lula e demais réus da ação penal envolvendo o Sito de Atibaia. A justificativa, de acordo com o magistrado, é “evitar a exploração eleitoral dos interrogatórios”. Vindo de Moro é uma piada pronta. Referindo-se ao ex-presidente, o juiz afirmou que um dos acusados foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro e, “apesar disso, apresenta-se como candidato à Presidência da República”. O interrogatório ficou agendado para 14 de novembro, às 14h. Ocorrerá em um outro país.

Além de Lula, também efetuaram registros de candidaturas nesta quarta-feira Henrique Meirelles (MDB), João Goulart Filho (PPL) e Eymael (DC). Com isso, são 13 os candidatos a presidente da República na eleição deste ano. O número é o maior desde a eleição de 1989. A partir de agora, o PT está liberado, por lei, para fazer campanha e pedir votos. No segundo debate eleitoral que ocorrerá nesta sexta, 17, na RedeTV! em parceria com a revista IstoÉ, a candidatura será representada por uma cadeira vazia – diferentemente do que fez a Band. Nunca uma cadeira vazia representou tanto barulho na vida política nacional.

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