Um tornado se formando sobre o Planalto

Da alta rejeição ao seu nome para reeleição ao relatório da CPI da Pandemia, são muitas as tempestades que devem atingir Bolsonaro nos próximos capítulos de seu desastrado mandato

Bolsonaro no Planalto - Foto Orlando Brito

Já diz o dito popular: quem semeia vento, colhe tempestade. Desde que assumiu a presidência da República, em 2019, Bolsonaro não fez outra coisa a não ser semear vento ao longo do seu caminho. Agora, começaram a soprar as primeiras brisas da tormenta que se aproxima e que deve atingi-lo em cheio, bem no ano da eleição.

O relatório da CPI da Pandemia, previsto para ser entregue no próximo dia 19, é uma das tempestades. Talvez não seja a mais forte, mas certamente fará alguns estragos. O relator, senador Renan Calheiros, já anunciou que vai pedir o indiciamento de Bolsonaro e de outras 30 pessoas, entre elas o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Bolsonaro e o PGR Aras – Foto Orlando Brito

Prevendo que o procurador-geral da República, Augusto Aras, pode arquivar o relatório sem enviar ao Supremo, os senadores já articularam uma estratégia junto à OAB. A ideia é que entidades de direito privado entrem com ações diretamente no STF representando as associações de vítimas da covid.

Juridicamente pode demorar a ter um resultado concreto, afinal, nossa justiça é lenta, mas politicamente trará muito desgaste ao presidente, sobretudo durante as eleições.

E por falar em eleição, outro tornado que Bolsonaro vem enfrentando é o alto índice de rejeição. De acordo com as últimas pesquisas, o total do eleitorado que declara hoje não votar de jeito nenhum na reeleição do presidente beira os 60%. Se esses números não mudarem até outubro do próximo ano, o capitão corre o risco de nem chegar ao segundo turno.

Tarcísio Freitas – Foto Orlando Brito

Segundo a Folha, a atual rejeição a Bolsonaro é a mais alta já medida pelo Datafolha em relação as oito disputas anteriores. Não por acaso, já se fala na possibilidade de o ministro da infraestrutura, Tarcísio Freitas, o mais bem avaliado do governo até agora, sair candidato no lugar do presidente. Talvez seja o desejo de alguns palacianos, difícil de se concretizar pela vaidade e falta de noção do capitão e dos seus três filhinhos.

Bolsonaro no litoral paulista

Além dessas tormentas, Bolsonaro enfrenta números difíceis de explicar ao eleitor como aumento da inflação, que já bate os dois dígitos; desemprego em alta e queda na renda dos brasileiros. Fora o aumento absurdo da gasolina, do dólar e da energia. É muita coisa para explicar e não há como terceirizar a culpa, como costuma fazer. No domingo (10), em conversa com jornalistas no Guarujá, fez uma ginástica verbal para dizer que nada tem a ver com os aumentos pela Petrobras dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha.

General Luna no palácio. Foto Orlando Brito

Depois da demissão de dois presidentes da Petrobras (Pedro Parente e Roberto Castello Branco), que se recusaram a mudar a política de preços da Petrobras, Bolsonaro não mostra agora a mesma valentia para demitir o general Joaquim Silva e Luna, ex-ministro da Defesa, que manteve a mesma política de seus antecessores. “O dólar está diretamente ligado ao preço dos combustíveis por lei. Eu tenho que cumprir a lei. Eu não mandei…Não é que não mandei, eu não mando na Petrobras. Eu quero… se eu pudesse, eu passava a Petrobras para o Mourão administrar: Olha, se aumentar o combustível, quem manda é o Mourão”. Quis dar um tom de ironia a um desejo mal contido de fuga dos problemas.

Mesmo com essa coletânea de fiascos, Bolsonaro aposta que o presidente da Câmara, Arthur Lira, vai continua sentado em mais de uma centena de pedidos de impeachment, a um preço cada vez mais inflacionado. Apesar disso, não se pode dizer que Bolsonaro tá bem no Congresso. Já sofreu algumas derrotas significativas, com derrubada de vetos e deve sofrer outras em breve.

O pastor Malafia no vídeo em que fala mal de Ciro Nogueira

Também não conseguiu fazer com que até hoje o ex-aliado Davi Alcolumbre coloque em pauta a indicação de André Mendonça para a vaga de Marco Aurélio no STF, aposentado desde julho. Esse impasse já começou a abrir uma guerra entre o fiel aliado do Planalto, o pastor Silas Malafaia e os ministros Ciro Nogueira, Casa Civil; Fábio Faria, das Comunicações; e Flávia Arruda, da Secretaria de Governo. Em um vídeo divulgado na segunda, Malafaia cobrou empenho dos ministros na aprovação de Mendonça.

E as coisas não vão bem nem mesmo quando o presidente sai para descansar no feriado prolongado, como ocorreu neste fim de semana. Acostumado a desafiar a lei e as regras locais, desta vez a coisa deu ruim. Primeiro foi impedido de assistir ao jogo entre Santos e Grêmio, no último domingo, na Vila Belmiro, por não ter se vacinado. No sábado, foi multado pela prefeitura de Peruíbe em R$ 500,00 por não usar máscara em público.

O sermão de Dom Orlando Brandes: pito em Bolsonaro

E na terça-feira, para encerrar o feriadão, recebeu críticas por parte de representantes da Igreja Católica durante as comemorações do dia da padroeira do Brasil no Santuário de Aparecida. Na missa da manhã o arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, embora não tenha citado diretamente o presidente, criticou o armamento da população, o discurso de ódio e as fake news. “Pátria armada não é pátria amada”, cravou o arcebispo entre outras contundentes censuras ao negacionismo de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia.

À tarde, já na presença de Bolsonaro, as críticas clérigos foram mais sutis. Ainda assim, o padre José Ulisses, diretor da Academia de Aparecida, falou sobre o sofrimento das famílias das 600 mil vítimas da covid no país.

Os raios e trovões estão cada vez mais próximos e os ventos mostram para que lado se dirige a tempestade.

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