Um golpe anunciado

Bolsonaro e os militares - Foto Orlando Brito

Nas mãos das Forças Armadas, o poder moderador. Nas mãos das Forças Armadas a certeza da garantia da nossa liberdade, da nossa democracia, e o apoio total às decisões do presidente para o bem da nação.” (Jair Bolsonaro. 13.8.21)

Li a entrevista de Christian Linch “Para o historiador da UERJ, ameaças constantes de golpe são busca de salvo conduto para escapar da prisão” (Parasita, 20.8.21) no qual o autor acusa Bolsonaro de  blefe nas recorrentes ameaças de golpe.

Não estou seguro desse blefe. De fato, o presidente talvez não tenha mais certo prestígio junto aos seus; nem aplausos significativos dos empresários,  tampouco um apoio popular mais abrangente que o expressado nas motos carreatas.

Sem dúvidas os resultados pífios na economia vão corroendo a popularidade de Bolsonaro e o povo vai se ressentindo dos efeitos inflacionários, a começar pela alta dos alimentos que se faz acompanhar ao aumento dos combustíveis.

Não revertidas essas situações, Bolsonaro terá dificuldades de manter alguma unidade em sua base bolsonarista. Acresça- se ao quadro crítico a pressão dos trabalhos da Comissão parlamentar da Covid e o esticar de cordas reciprocamente produzidos entre os três poderes, fatores que jogam nas cordas o governo.

Não obstante o desgaste evidente do governo, há fatos que permitem antever, ao meio das fragilidades e erros, o reforço da possibilidade de um curioso e singular golpe.

Jair Bolsonaro e seu vice, general Mourão – Foto Orlando Brito

Bolsonaro conseguiu irritar e perder o respeito do vice-presidente, General Mourão, mas ainda conta com apoio dos comandantes das três forças armadas e do general Braga Netto, ministro da defesa. Não se sabe até quando os generais do alto comando seguirão o comandante em chefe. Um golpe é uma hipótese absurda?

Curioso porque golpe ” contra si próprio”, como afirma Bolsonaro, teria em termos históricos algumas características absolutamente contrafáticas nos cenários nacional e internacional, três delas são mais evidentes: 1ª) o trumpismo que tanto motivou a agenda de Bolsonaro acabou, desmoralizado nas próprias fanfarrices; 2ª) não existe um cenário internacional disposto a apoiar um regime autoritário sob pretexto de perigo comunista; 3ª) a economia ainda não demonstrou sinais de aquecimento, com efeitos no bolso dos trabalhadores, como já lembrado acima.

Jair Bolsonaro e Ciro Nogueira, do Centrão, agora ministro – Foto Orlando Brito

A despeito dos cenários pouco propícios a quarteladas, de Bolsonaro não se deve esperar senão atos desvairados, mormente na condição de tensionamento e muitos constrangimentos. O animal acuado torna-se mais perigoso. Todavia, enganam-se aqueles que subestimam a capacidade do presidente em: a) organizar movimentos sociais, o que as esquerdas não logram há décadas. O sete de setembro será a medida da real força do governo; b)  cooptar parte do centrão com quase quatro bilhões de reais disponíveis para a distribuição de emendas; c) seduzir o conjunto das forças militares, em todos os seus níveis, em face do clima de  desordem institucional e insegurança geral, de apoio a um estranho golpe em defesa da Constituição.

A única maneira de evitar um iminente golpe anunciadíssimo é a mobilização. Ela já está em curso nas tentativas de parlamentares em provocar algum diálogo entre o STF e o Presidente. Mas deve ser ampliada em todos os níveis, inclusive em manifestações de massa. Lula e demais opositores optaram pelo caminho das ações entre elites. Elas não bastarão sem grandes manifestações populares.

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