Ruth de Aquino e a violência do DJ

Até que ponto o caso do DJ que bate em mulher está relacionado à educação? E o que as mães tem a ver com isto?

O agressor da mulher, mãe de seu filho, foi flagrado por câmera de vídeo instalada em sua residência

Gosto de ler Ruth de Aquino: ela não inventa moda e vai direto ao assunto que aborda, com maestria.

Mas desta vez ela pisou na bola.

Pensei que ela fosse fazer diferente e pôr mesmo o dedo na ferida, ao tratar da surra dada pelo DJ    cujo nome não escrevo pra não ajudar a fixá-lo na cabeça de ninguém. (Faço o mesmo agora com o PR: truque de marqueteiro eleitoral que tanto bate o nome do Fulano na cabeça da gente que quando você se dá conta só pensa naquele candidato…)

Em um país qualquer já não é fácil lutar contra o mandonismo dos homens sobre as mulheres. Aprendi isso em 1992, quando presidi a CPI da Violência contra a Mulher e participei de discussões sobre o tema na Suíça (presencialmente) e em outros países com a então nascente utilização da internet – era um sistema da Embratel que o Senado Federal disponibilizava e eu usei como deputada federal. Fiquei horrorizada: achava à época que só nosso atraso cultural gerava o fenômeno; ou, então, era coisa de cultura exótica e religiões atrasadas (como as que agora grassaram por aqui, na esteira desse Fulano que governa o país).

Ruth repete o de sempre: a sociedade é machista e dá corda para que os homens não respeitem as mulheres, a coisa acontece dentro da própria casa da vítima e o agressor é sempre parente, amigo ou frequentador do ambiente. Nada da surrada história de um “Negão num lugar ermo, agarrando uma mocinha ingênua vindo da Escola no curso noturno!” A coisa se passa mesmo no sacrossanto recinto do Lar – cantado e decantado em prosa e verso, sobretudo no Dia das Mães…

Discordo, isto é, concordo só em parte. Uai: que sociedade é essa se ela é composta de homens e mulheres e somos nós – infelizmente – quase que as únicas encarregadas de educar as novas gerações. O que andamos, então, nós mulheres a ensinar a nossos pimpolhos?

Com certeza coisas do tipo: “isso não é coisa de homem”, “homem não chora!”, “deixa de ser mulherzinha!”, “ô, minha filha, você precisa aprender a cozinhar: com certeza vai se casar e vai precisar saber pelo menos o básico, né?”, “arruma a sua cama e aproveita e arruma também de seus irmãos”.

Ou então, como eu mesma ouvi de meu pai por duas vezes inesquecíveis: eu, com 8 anos de idade, completei o Grupo Escolar e em primeiro lugar na turma. Ganhei o prêmio de dar uma volta de teco-teco sobre a minúscula Alvinópolis daquele tempo, onde meu pai era o Juiz. “Menina não anda sozinha com um piloto desconhecido”. (Até hoje, nos piores dias, naqueles em que a solidão bate fundo, ainda ouço o barulho do teco-teco voando sobre a cidade levando o feliz garoto que tirara o segundo lugar… Depois, eu já tinha 16 anos e vínhamos três irmãos para estudar em Belo Horizonte. Eu, a que mais estudava, radiante para fazer Psicologia (queria tentar entender a mim mesma e assim ajudar os outros). Eu e dois irmãos: um para fazer jornalismo e o outro pro Colégio Militar. Os dois fizeram o planejado.)

Eu tive de ir trabalhar na Petrobras para ajudar papai a pagar a conta dos três “porque aí na frente, com certeza, você vai se casar.”

Vinguei calada: virei “subversiva” e fui mexer com sindicatos e partido político!

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