Pequeno glossário da nova política brasileira

A política tem sua linguagem própria, mas com o passar dos tempos e das crises ocorrem mudanças. Pelo advento de novas práticas legislativas, como a alteração de certos conceitos, além do avanço da comunicação digital. Reuniões legislativas hoje se realizam, quando necessário, on line: cada qual em seu gabinete, ou residência, debatendo com os demais.

Assim sendo ocorrem mudanças de maneira progressiva, em relação às leis, regulamentos, normas regimentais, obrigações dos senadores e deputados, etc. Até pela evolução da linguagem e instituição de novos valores linguísticos se modernizou, se renovou, ganhou adeptos, o vernáculo renovado da política. Como não deixaria de acontecer, tendo em vista a evolução natural da sociedade.

Tais alterações por vezes surpreende e supera parâmetros da educação antigamente observados. E cobrados pelo estamento social. Na atualidade há aspectos de vale-tudo nos plenários, nas salas das Comissões, nas reuniões do Congresso, e por aí os novos hábitos linguísticos se espraiam com rapidez e sem limites. Extrapolam para o comportamento linguístico desvirtuado dos parlamentares fora do Congresso, e os novos termos são assimilados também pela comunicação digital.

O grande promotor dessa nova realidade foi o presidente Mimimi Bolsonaro, ele próprio uma inesperada inovação que trocou a linguagem natural pelo xingamento, pela injúria, a ofensa e a falta de respeito. Ou decoro parlamentar, como se diz na Casa. Para ele tudo vale. E levou tais inovações para a televisão, além de uma certa reunião ministerial onde despejou o muito do que sabe de insultos e palavrões, estimulando ministros a imitá-lo.

Daí surgiram, inevitavelmente, novos verbetes e significados para o pomposo linguajar adotado pelos nobres (?) parlamentares. Vejamos alguns exemplos:

Depufede – Nova denominação de deputado federal, meio carinhosa e simplificada, sintetizando a histórica  designação. Válido também para senhoras parlamentares: Exma. Sra. Depufede Flor de Lisxo…

Orçamento – Peça fundamental elaborada pelo Legislativo a ser apresentada no ano do exercício fiscal, mas sempre entregue no ano seguinte. Elaborados de maneira a que não possam ser cumpridos.

Centrão – Grupo de parlamentares de todos os tipos e partidos, presumivelmente para ajudar o governo, sem se descuidar de sues próprios interesses, políticos ou econômicos;

Centrinho – Grupo menor de parlamentares  propenso a atender seus próprios interesses e as solicitações oficiais, de modo a continuar existindo;

Comissão de Ética – Para punir parlamentares faltosos, que não conseguem fugir ou ter amigos no STF. Praticamente inativa. Dados os erros frequentes, conhecida também como comissão de ótica.

Capetão – Designação de capeta grande, diabo, satanás, lúcifer e congêneres frequentadores do inferno. Políticos de comportamento inadequado. Aplica-se ao Capetão Bolsonaro, por exemplo.

Fundo Apartidário – Recursos transferidos do orçamento  para financiar atividades dos partidos: convenções, desfiles, seminários, viagens, reforma de apt. funcional.

Plenário – Chamado também de arquibancada, onde  ficam as bancadas dos mais de 30 partidos. Só fica lotado  no dia da posse;

Impeachment – Forma complicada de derrubada de presidentes, mas de acordo com a Constituição. Um dos dispositivos legais mais cogitados em cada Legislatura.

Recesso – Período extra de repouso, sem prejudicar as férias e os vencimentos, mantidos normalmente;

Legislove –  Aposentadorias polpudas estimulam o matrimônio entre funcionários. Demétrio se aposenta com

R$ 31 mil, e a esposa Amélia com R$  25 mil, assim como a maioria dos funcionários. Futuro tranquilíssimo. No setor privado, Demétrio se aposentaria com R$ 6 mil e Amélia com R$ 2,8 mil. Casais milionários abundam no Congresso.

Comissão de Pesquisas e Investigações (CPI) – Substitui as Comissões Parlamentares de Inquéritos, geralmente limitadas pela inconsistência e falta de resultados;

Emenda Pralamentar –  antes Emenda Parlamentar, verba para distribuição de benesses à base eleitoral dos parlamentares. Para alguns é exagero, para a maioria é indispensável, divino, maravilhoso.

Voto de papel  – Bolsonaro insiste no fim da votação eletrônica. Para ele o voto correto é o de papel, depositado em caixas de papelão, para ele mais seguro que os computadores.

Estado de Sítio – Adotado pelos governantes para tomar medidas de caráter duvidoso, e que legalmente não poderia adotar.

— José Fonseca Filho é Jornalista

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