O tumulto da pororoca amazônica

Arthur Virgílio Neto, Foto Orlando Brito

O governador Geraldo Alkmin ainda não navega seu balão em céu de brigadeiro. Há muitas nuvens de tempestade em sua rota e pedras no caminho. Uma delas é o prefeito João Doria que pode renascer das cinzas; também uma eleição primária que pode azedar a unanimidade indispensável, outra a mão pesada da procuradora geral Raquel Dodge que vem assombrando executivos. Entretanto, uma inesperada de que recém se começa a falar é da “Pororoca Amazônica”, como o cronista (dublê de repórter) Raimundo Costa cognominou o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto.

A imagem da Pororoca é muito apropriada, pois Virgílio é um político de rara exuberância no cenário nacional, que nos últimos anos ficou confinado ao cenário regional. Sua entrada em cena promete turbulência, embora seja limitada pela realidade geopolítica brasileira.

A pororoca do Rio Amazonas, que as crianças de todo o país estudam ainda na escola básica (primária, antigamente), é maior força da natureza em nosso planeta. Na verdade, só se compara à pororoca o tsunami do Oceano Pacífico.

No Atlântico não há nada igual nem tão poderoso. Entretanto, pois mais que se agite, produzindo ondas gigantescas na foz do grande rio, a certa altura ela é superada pelas demais forças da natureza e obrigada a deixar o Amazonas entrar mar a dentro. Virgílio vai incomodar, mas não conseguirá vencer o poderoso caudal de São Paulo.

Arthur Virgílio Neto é um político de origem aristocrática, neto e filho de grandes caciques, chamado às urnas para cumprir o destino da família quando se achava na embaixada brasileira de Paris dando os primeiros passos de uma promissora carreira diplomática. Não fosse isto, com certeza teria sido um dos grandes nomes da burocracia de estado brasileira, uma figura destacada no cenário internacional.

Bacharel em Direito pela faculdade da então Universidade Nacional do Rio, depois passou pelo funil mais estreito e competitivo da seleção de talentos neste País, o vestibular para o Instituto Rio Branco, do Itamaraty, considerada uma das melhores escolas de diplomatas do mundo. Com esse diploma, pode-se dizer que Virgílio é um político profissional de carteirinha.

Chamado às urnas, teve de se afastar dos punhos de renda e encarar o pé no barro das campanhas políticas.

Eleito deputado federal, foi um dos mais aguerridos integrantes da antiga bancada dos “autênticos” do PMDB, onde se inscrevia no grupo mais à esquerda. Houvesse no seu mandato o AI-5, certamente teria sido cassado.

O ex-presidente Lula e seu governo sabem como bate forte o látego do político amazonense, quando foi líder da bancada tucana no Senado Federal. Entretanto, a geografia e os esquemas de poder do Brasil lhe barram voos mais altos. Não há espaço tanto no PSDB como nas demais agremiações para fórmulas de fora do café com leite, São Paulo/ Minas. Isto vale para esquerda, vale para a direita e pega no pé de Arthur Virgílio.

Entretanto, os tucanos que afiem o bico: Assim como os indomáveis índios Manaus que impuseram respeito aos colonizadores, obrigando os portugueses a uma composição de compromisso para da Coroa de Sua Majestade, Virgílio deve ser uma força inquieta e poderosa no interior do PSDB. A Pororoca pode um dia vencer a correnteza.

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