O mal da Wal e o rapaz que se acha o tal

Wal do Açaí com Carlos e Jair Boilsonaro

Walderice Santos é a célebre Wal do açaí. Ela se correspondeu com o rapaz que se acha o tal. Tanto faz se ele não tem cultura, nem estatura, só impostura. Ela ama igual. A moça do açaí corporificou a Wal Bolsonaro para ciscar uma vaga de vereadora em Angra do Reis (RJ). Ganhou uma live do patrão, gélida e fatal como a morte. O apoio de Bolsonaro rendeu míseros 266 votos no município onde ele obteve 63 mil votos (74%) em 2108. Repelida pela urna, terá de reencarnar a Wal do açaí, no balcão empoeirado da vila de Mambucaba. Não voltará ao anonimato em razão da suspeita ser fantasma do rapaz que se acha o tal. A Wal é a síntese da maldição da eleição. Candidatos apoiados por Bolsonaro, aliados, os ícones e aqueles que professam o mesmo ideário afundaram no mesmo desastre.

A anemia da Wal do açaí congelou o bolsonarismo. A derrota é emblemática. Bolsonaro testou, ao limite, o delírio absolutista de sapatear na democracia ao apadrinhar nomes que menosprezam a inteligência dos cidadãos. Não conseguiu votos para a protegida e se deu mal em outras petulâncias eleitorais. Outra amaldiçoada pela praga é Rogéria Bolsonaro. Ex-mulher e mãe dos numerais 01, 02 e 03, não foi bem na matemática das urnas. Com esquálidos 2.034 votos ficou na rabeira. Apesar do sobrenome teve morte eleitoral. É mais produtiva na compra de imóveis em espécie. Carlos Bolsonaro, vereador federal beliscou o mandato, mas afinou. Perdeu 34% dos eleitores desde 2016 e passou a faixa de campeão de votos para Tarcísio Motta, do PSOL. Outros 70 candidatos usaram a logomarca Bolsonaro e perderam.

Os resultados são incontroversos e os números eloquentes. Foi o pleito municipal mais federalizado da história recente. O eleitor expressou saturação com os extremos, reposicionou os partidos de centro e optou pela experiência no comando da maioria das cidades. É a óbvia rejeição ao experimentalismo amador do embuste batizado de “nova política”, encarnada por Bolsonaro. Os antagônicos que se retroalimentam, PT e o bolsonarismo, naufragaram. O PT ainda pode se reabilitar em 15 cidades grandes no segundo turno. Até aqui a esquerda que avançou não é petista. As legendas de centro monopolizaram a eleição e Bolsonaro sofreu reveses individuais e políticos.

Bolsonaro com Crivella

Pessoalmente o capitão Jair Bolsonaro amargou derrotas contundentes. Entre os nomes que apoiou estavam 6 candidatos a prefeito e 45 a vereador. Elegeu apenas 9 vereadores. Já os “maricas” emplacaram 26. Dos postulantes a prefeituras, só dois avançaram ao segundo turno. Em Fortaleza o aliado de Bolsonaro já descolou do padrinho do dedo podre, fugindo da maldição da Wal. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella é a Wal amanhã. Tem uma rejeição superlativa e não herdará votos da esquerda para virar sobre Eduardo Paes. Paes surge como a nova estrela do DEM, que dobrou o número de eleitores nessa eleição e já comanda 3 grandes capitais (Salvador, Curitiba e Florianópolis).

Delegada Patrícia, de Recife: Com apoio de Bolsonaro, não chegou a segundo turno

Os estrondosos fiascos políticos de Bolsonaro ocorreram em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Manaus. Celso Russomano colou a campanha em Bolsonaro. Amargou uma humilhante quarta colocação com pouco mais de 10% dos votos. Somou a própria rejeição à do capitão e desidratou. Em Belo Horizonte o escolhido, Bruno Engler, foi mastigado por Alexandre Kalil. Em Manaus, o coronel Alfredo Menezes obteve modestos 11% dos votos. Outro fenômeno que confirma a maldição da Wal se deu em Recife. Após anunciado o apoio de Bolsonaro, a delegada Patrícia derreteu e ficou em quarto lugar. As 5 capitais, incluindo o Rio, totalizam 18 milhões de eleitores. Os bolsonaristas somaram mirrados 1,5 milhão de votos. Menos que 10% do total.

O discurso da “nova política”, camuflagem da direita radical, perdeu aderência e foi pulverizado após uma fadiga precoce. A exemplo de países da América Latina (Argentina, Bolívia) e dos Estados Unidos a extrema direita não vislumbra um ciclo longevo no Brasil. O comparativo com 2016 mostra números estáveis do centro, mas não houve a segunda onda Bolsonarista. Apesar de êxitos rarefeitos, a grande maioria de perfis associados a tapeação da nova política (capitão, major, coronel, cabo, PM, juiz, delegado etc.) malogrou. Concebida e aplicada por Sérgio Moro e setores do MP, a satanização generalizada da política, que deformou a democracia, adulterou a última eleição presidencial e fraudou a

Bolsonaro e Moro no Planalto – Foto Orlando Brito

história, pode ser enterrada numa vala comum ao lado da lava jato.

Consolida esse quadro o pífio desempenho do PSL, legenda que se fantasiou de “nova política”. Elegeu poucos prefeitos e vereadores mesmo tendo o maior baú financeiro. A maldição da Wal devolve o PSL à estatura de nanico. Nomes de sólidos vínculos com o Bolsonarismo, como Joyce Hasselmann e Fernando Francischini tiveram desempenhos insignificantes. A deputada federal, eleita com 1 milhão de votos em SP, teve raquíticos 98 mil votos (1,8%) para prefeitura. Francischini obteve reles 52 mil votos (6,2%) em Curitiba. A bolsonarista Carla Zambelli também foi vítima. O pai, o irmão e a cunhada fracassaram nas urnas alcançados pela maldição da Wal.

Dória com Bruno Covas na campanha paulsitana – Foto Patrícia Cruz

A configuração do poder político-partidário, com reposicionamento da dita “velha política”, reorienta a sucessão presidencial e estremece qualquer tipo de conforto que Bolsonaro possa estar sentindo. A depender de outras 14 grandes cidades, onde os tucanos disputam, e da maior variável, São Paulo, João Dória vai aquecendo para sucessão presidencial. O DEM se credencia com os resultados obtidos. Crescerá mais com a eventual vitória de Eduardo Paes. O PSD também terá protagonismo. O primeiro teste será a presidência da Câmara. A pretensão de Jair Bolsonaro de escalar uma Wal para tutelar a Casa sofreu um revés com os números de DEM, PSDB e MDB, hoje aliados por lá.

O maior legado dessa e de outras eleições é o reconhecimento da volatilidade política. Ela insiste em pontuar que o poder é ilusório, efêmero e não pode tudo. Não pode, por exemplo, ser exercido da perspectiva autoritária a ponto de desafiar os alicerces mais sagrados da democracia, ameaçar as instituições, soterrar os valores humanistas e conspirar contra os avanços civilizatórios. Golpes, descasos, bravatas, incúria, despreparo e incompetência são monitorados pelo eleitor que dá o troco na urna. A existência do conceito de bolsonarismo precisa ser revista. Como fenômeno político duradouro e perpetuador de lideranças simplesmente não existe. No modo caos, o rapaz que se acha o tal, pode se dar mal e ser a próxima vítima da maldição da Wal.

— Weiller Din iz é Jornalista

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