A Coreia do Norte pode desencadear uma tragédia mundial

Líder coreano Kim Jong Un durante visita ao Instituto de Armas Nucleares. Pyongyang, 3 de setembro (ACNC) - O líder sênior foi recebido pelos quadros responsáveis ??do Departamento de Armamento do Comitê Central do Partido Trabalhista da Coréia e cientistas do Instituto de Armas Nucleares e recebeu o relatório geral sobre o estado do armamento nuclearO líder sênior foi recebido pelos quadros responsáveis ??do Departamento de Armamento do Comitê Central do Partido Trabalhista da Coréia e cientistas do Instituto de Armas Nucleares e recebeu o relatório geral sobre o estado do armamento nuclear. Foto KCNA

O embaixador Roberto Abdenur fez uma observação muito importante nestes dias: Há bom tempo que a Coreia do Norte não é mais uma marionete manipulada pela China, como muitos ainda pensam.

Parceiros ideológicos, na luta contra japoneses e norte-americanos, os dois Países alinharam-se como irmãos siameses durante a Guerra Fria. Esta imagem persiste, mas, como adverte o ex-embaixador do Brasil em Pequim, esses tempos passaram. É uma ilusão acreditar que um telefonema vindo da Praça da Paz Celestial possa chamar Pyongyang à razão.

Duas gerações depois de os fundadores das repúblicas socialistas do Extremo Oriente, os dois países seguiram caminhos quase antagônicos. Na economia são antípodas. Na geopolítica, a Coreia do Norte servia como um estado tampão entre as bases norte-americanas no Coreia do Sul e a China Continental. Agora virou um estorvo.

Muitos analistas estão lembrando o perigo coreano à paz mundial com o precedente de há 105 anos, a Sérvia, um pequeno país que foi o estopim da Primeira Guerra Mundial.

Entretanto uma comparação mais próxima seria o Paraguai, para usar um exemplo sul-americano. O Paraguai de Solano Lopez era um país pequeno, isolado, sem tradição diplomática (somente dois países tinham embaixada em Assunção, Brasil e Estados Unidos), armado até os dentes (70 mil homens no Exército, numa população entre 280 a 350 mil habitantes – 90 por cento no campo), economia de subsistência.

Kim Jong-un, como Lopez, é um líder belicoso, herdeiro do governo paterno e matou o irmão, temendo ameaça à sua estabilidade. A oposição, clara ou imaginária, foi presa, morta ou exilada (no caso paraguaio, em Buenos Aires – uma causa para a paranoia antiportenha de Lopez).

Ainda dentre muitas outras analogias, assim com hoje espera-se que a China contenha o ditador coreano. Era o que imaginavam o presidente argentino Bartolomeu Mitre e o primeiro ministro brasileiro Zacarias de Goes. Contavam que o ex-presidente da Confederação e governador de Paraná, Justo Urquiza, convencesse Lopez de que os dois países não pensavam em extinguir o Paraguai (que seria reincorporado à Argentina). E que fosse à mesa de negociações para uma solução negociada de suas pendências, as fronteiras com os dois países. Não deu certo, Solano invadiu Mato Grosso e Corrientes, deflagrando a guerra que levou seu país à ruína.

Esta crônica pretende unicamente ilustrar com uma memória histórica. Como em outros lugares e momentos, acontecimentos semelhantes se repetiram: um país fechado, proibido de se relacionar com o Exterior, governado por um tirano impermeável, cercado por vizinhos insensíveis e governantes arrogantes, pode desencadear tragédias.

Não é plausível a comparação de Jong-un com Hitler, que era líder de uma grande potência sustentada pelo melhor exército do mundo em sua época.

A Coreia se parece mais ao Paraguai de Lopez, que à Alemanha ou à Sérvia. Porém tem bombas atômicas e foguetes.

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