Comunidade LGBT no Brasil à beira do genocídio

O que leva um professor universitário paulista, Ph.D., a se mudar para os Estados Unidos e se tornar um caixa de supermercado? E o mais intrigante: ganhando menos nos EUA do que no Brasil. A resposta é inesperada e inusitada. A maioria dos imigrantes brasileiros nos Estados Unidos não buscam uma melhor situação financeira, mas liberdade sexual sem sofrer perseguições.

É comum encontrar brasileiros, graduados por universidades de renome, como USP, Puc-Rio, FGV, UnB, lavando pratos, limpando mesas de restaurantes, vivendo em precárias condições. A vida nos Estados Unidos não é fácil.

A sociedade brasileira é das mais machistas e racistas do Terceiro Mundo, o que leva muitos gays e lésbicas a deixarem o Brasil, mesmo para trabalhar no mercado informal. Em Nova Iorque, a comunidade brasileira faz piadas: “No nosso país não tem gays, pois eles estão morando nos Estados Unidos.”

A Quantum American Society entrevistou 2.048 imigrantes ilegais brasileiros entre os anos de 1998 e 2001 nos Estados de Nova Iorque, Nova Jersey, Connetictut, Illinois, Flórida, Califórnia e Indiana. Desse total, 35% vieram para os Estados Unidos por motivos de orientação sexual. A entidade americana usou a mesma metodologia em outra pesquisa em 2016, e os resultados obtidos são assustadores : 65% citam orientação sexual como fator decisivo para deixar o Brasil.

Um dos entrevistados, F.G. , 51 anos, paulista de Matão, vive ilegalmente nos Estados Unidos desde 1988. “O começo foi um pesadelo, eu lavava pratos num restaurante francês no Upper West Side, era uma barra pesada. O que me ajudava a sobreviver eram as noites nos bares gays da cidade.” F.G. trabalha atualmente como bar tender num bar gay no Village em Nova Iorque. Profissão no Brasil: ex funcionário de um banco estrangeiro. Universidade : FGV. Segundo ele, mesmo morando ilegalmente nos Estados Unidos, “eu vivo com decência e com condições de dignidade.”

Os gays brasileiros entrevistados ressaltam que é impossível assumir a sua orientação sexual no Brasil. “Nós sofremos ataques físicos, agressões verbais, ações ameaçadoras e provocações de todos os tipos”, frisa P.A.D, 45 anos, mineiro de Ipatinga, vivendo há 27 anos em Nova Jersey. “A minha mãe acostumava assistir ao programa do Clodovil na Rede Manchete, e uma vez ela me disse que preferiria ver um filho morto a saber que ele é gay. Isso partiu o meu coração e me empurrou para fora de casa e do meu país.”

De acordo com pesquisas realizadas antes da onda Jair Bolsonaro, 33% dos jovens brasileiros (15 a 29 anos) acreditam que homossexualismo é doença e que ser gay é aberração moral e social. Outro número assustador: 47% afirmaram que não gostariam de ter um homossexual como vizinho. O historiador Sérgio Buarque de Holanda escreveu que há diversas formas veladas de violência no país, encobertas pela suposta cordialidade do povo brasileiro. Muitos homossexuais, temendo serem ainda mais desrespeitados, evitam processar os seus agressores.

Os gays brasileiros que vivem nos Estados Unidos pagam um preço muito alto pela sonhada liberdade sexual. A maioria, com alto nível de escolaridade, deixa para trás família, amigos, identidade nacional, cultura, uma pátria ensolarada. A homofobia não é crime no Brasil e com Bolsonaro no Palácio do Planalto, a homofobia deve virar política de governo. O repórter tentou contactar quatro vezes o Brazilian Rainbow Group em Nova Iorque e não obteve sucesso.

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