A radicalização política veio para ficar

A cada pesquisa, como a do DataPoder360, fica mais clara a dificuldade de se criar uma candidatura de centro com perspectiva de êxito nas eleições presidenciais de outubro. Este quadro está se desenhando não em função dos nomes apresentados por aqueles que pretendem ocupar este espectro da luta política.

A principal pergunta que deve ser feita não é quem representa o centro. Ou onde está o centro. A grande questão é: existe centro nas atuais circunstâncias da luta política no Brasil? Os eleitores estão em busca de um candidato que seja capaz de unir parcela de extremos, como no passado?

A realidade é que o país e seus eleitores estão vivendo em outro mundo. A campanha eleitoral de 2014, os primeiros dois anos de governo da ex-presidente Dilma, o processo do impeachment e a batalha judicial que levou o ex-presidente Lula à cadeia criaram um clima no país.

A vida é assim. Os que hoje pretendem representar o centro, passaram os últimos cinco anos radicalizando. Durante este período se confundiram com aqueles que hoje chamam de direita. A verdade é que depois de terem patrocinando a radicalização, como podem agora representar o centro.

Está para surgir um nome que represente o centro! Os que estão em campanha representam a direita ou à esquerda. A realidade não depende da vontade de candidatos, partidos, intelectuais, analistas e torcedores. Estão todos prisioneiros da realidade que criaram.

De nada adianta o PSDB menosprezar a candidatura Jair Bolsonaro. Os tucanos criaram o ambiente necessário para seu crescimento na luta política. Ele ocupou um espaço eleitoral que normalmente seria ocupado por seu candidato, Geraldo Alckmin. Este vive numa encruzilhada: falar com o centro (?) ou obter a adesão da direita (?).

A greve dos caminhoneiros revelou de onde vem a força política de Bolsonaro. Mostrou também que um candidato pode se sustentar sem tempo de propaganda na televisão. As redes sociais podem cumprir um papel relevante em casos específicos. Bolsonaro sustenta sua campanha e os caminhoneiros sustentaram seu movimento no WhatsApp.

Nesta eleição parece estar se criando um ambiente político diferente. Há uma disputa pelo voto de direita. Há uma disputa pelo voto da esquerda. Ou os senhores acham que Ciro Gomes, candidato do PDT, está querendo conquistar o centro. Não, ele quer conquistar à esquerda, retirar da disputa o candidato do PT e assumir a bandeira da esquerda.

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, para se viabilizar precisa conquistar os simpatizantes de Bolsonaro. E não fará isso com um discurso mole de centro. Ele terá que falar a língua que a turma do Bolsonaro quer ouvir. Será que ninguém lembra das circunstâncias pelas quais o ex-presidente Collor foi eleito em 1989?

Ninguém pode mudar as coisas num passe de mágica. Ainda mais num país onde diariamente a imprensa dá espaço para porta vozes da radicalização. Está criado no país um ambiente de radicalização. A mídia tradicional fez campanha para prender seus adversários, independente de serem culpados ou não.

Mas agora tem sido menos sensacional quando se trata da turma de seus amigos e aliados. Ocorre que a imprensa no nosso país não consegue representar o conjunto da população. Esta continua revoltada e sedenta. Ela quer Justiça. O que vale para uns tem que valer para outros. A Justiça para a opinião pública é alto de página, não importa que ela tenha sido colocada numa coluninha no pé da página.

Tudo indica que a radicalização política não vai se dissipar com as próximas eleições. Não haverá trégua na luta política e partidária. O STF, que também apostou neste clima colérico, não tem varinha mágica para vapt-vupt. A guerra  foi criada e não há ainda quem tenha força de acabar com ela. É preciso tempo, paciência, sabedoria e conciliação. Muitos não são capazes de esperar. Para eles, as coisas são a ferro e fogo. E todos os dias se exasperam e arrancam suas vestes nas páginas de jornais.

 

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