Participação de militares no governo deve reativar ação internacional

O vice-presidente, general Hamilton Mourão

A participação dos generais Hamilton Mourão e Augusto Heleno no provável futuro governo significa que a política externa poderá ter grande relevância na administração federal. Os dois têm em seus currículos atuações relevantes na área internacional. Heleno foi comandante no Haiti e Mourão na África. Esses são apenas dois exemplos da importância da participação de brasileiros em forças de Paz das Nações Unidas.

Somente o Itamaraty, com seu corpo de diplomatas profissionais, tem tamanha relevância quanto às Forças Armadas na projeção política do Brasil no Exterior. Em números, desde 1956, quando o Brasil mandou seu famoso Batalhão Suez para integrar a força de paz das Nações Unidas encarregada de separar as tropas de Israel e Egito, mais de 50 mil militares brasileiros das três armas estiveram em operações armadas no Exterior.

General Augusto Heleno, cotado para assumir uma pasta ministerial caso Bolsonaro seja eleito

Nessas operações, que não se deve confundir com outros tipos de participação dos militares na diplomacia, como os adidos nas embaixadas ou integrantes de grupos de treinamento e adestramento em países amigos, os comandantes têm um papel político. Em muitos casos, o Brasil detém o comando geral da operação, dirigindo forças multinacionais.

Neste caso, de tropas de multinacionais, o comandante tem de integrar o compor politicamente não apenas com os governos dos países ocupados, como também com os chefes de tropas dos demais países que integram a força. É um trabalho diplomático, mas muito delicado pois envolve gente armada. Como se sabe, com arma de fogo não se brinca.

Com isto, as forças armadas podem oferecer a qualquer governo um bom contingente de quadros com experiência na área internacional. Oficiais da reserva que façam parte do governo civil terão muita sensibilidade para relacionamento internacional, o que não se viu nos últimos governos da dupla Dilma/Temer, cujos quadros eram voltados inteiramente à política nacional, quando não apenas a segmentos regionais. Uma mudança de visão pode vir daí.

Soldados do Exército

O Exército tem forças operando em Chipre (no Mar Mediterrâneo), República Centro Africana, Saara Ocidental, República Democrática do Congo, Guiné Bissau e Sudão Sul. A Marinha também está no Mediterrâneo, operando no Líbano, nas costas do Oriente Médio, com a nau capitânia da Unifil, a força naval das Nações Unidas que controla aquela região de conflito. O navio que lidera a flotilha da ONU é a fragata Independência, líder de embarcações de guerra da Alemanha, Grécia, Turquia, Bangladesh e Indonésia.

A Força Aérea está preparando, em Manaus, tripulações e equipes de terra para atuar em missões de paz das Nações Unidas. Na Década de 1960, no governo João Goulart, a FAB operou, sob comando da ONU, na guerra civil do antigo Congo Belga.

A participação de militares no provável futuro ministério, como tem dito o candidato Jair Bolsonaro, pode aguçar a sensibilidade internacional do governo.

Um dos primeiros problemas que um possível governo Bolsonaro enfrentará será a comunicação com organismos internacionais, hoje muito influenciados por ativistas. Os movimentos de denúncia de golpe no Brasil para destituição da ex-presidente Dilma Rousseff, acrescido da campanha de desqualificação do Judiciário pela condenação criminal do ex-presidente Lula, além do carimbo de tirano já impresso na testa do candidato Bolsonaro serão obstáculos a superar. Neste sentido, um governo com sensibilidade para relações internacionais será positivo para reinserir o Brasil no sistema multilateral do mundo.

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