O elefante na sala de 15 metros quadrados

Faz um mês, nesta segunda, 07, que o ex-presidente Lula entregou-se e foi recolhido a uma cela, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Foi condenado, em segunda instância, a 12 anos e um mês de prisão, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Preso, manteve-se em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos para as eleições de outubro, mostrando que seu patrimônio eleitoral persiste — e que no mínimo será o grande eleitor desta campanha atípica.

O quadro político-eleitoral, ao contrário do que muitos supunham, se mexeu pouco – e justamente porque Lula está quieto. Ciro Gomes quase foi o personagem do mês, mas o flerte de um pedaço do PT com o candidato do PDT foi ofuscado pela ala que o trata como impalatável. E considera falar em Plano B agora uma heresia. A união da esquerda no primeiro turno segue como lenda urbana. Joaquim Barbosa, que pode sair pelo PSB, ainda brinca de avestruz com o eleitor. Há quatro anos ausente da vida pública após se aposentar no Supremo, é uma esfinge política. Ocupa o lugar de que Luciano Huck abdicou. Jair Bolsonaro segue como o urubu esperando a carniça. Não porque goste, mas porque é o que lhe sobra. Os demais pré-candidatos entraram em alguma névoa de desimportância.

Sede da Polícia Federal em Curitiba. Foto: André Richter/Enviado Especial /Agência Brasil/EBC

Como na brilhante capa da última edição da revista Piauí – desenho da artista russa, que vive da Armênia, Nadia Khuzina -, Lula é o imenso elefante na sala de 15 metros, onde qualquer movimento seu pode mudar tudo. Todos são incapazes de tirar o elefante dali.

Não se sabe se Lula dorme tranquilo – esqueça a insulina e as outras bobagens inventadas por Veja -, mas certamente quem está livre não dorme melhor. Lula não dita só as regras no PT. Se a ampulheta virar, e o calendário avançar para eleições sem o ex-presidente nas cédulas, todos, literalmente todos os demais, serão afetados pelo que ele decidir. Se mexer a tromba e abanar as orelhas, sacudirá o quadro político. Quanto mais perto das eleições, mais arriscado. Mas se não pode contar com sua liberdade, Lula joga com o que mais lhe sobra: tempo.
Agora com autorização judicial para receber amigos e aliados às quintas-feiras – serão dois a cada dia, durante uma hora – Lula poderá acelerar articulações políticas. Na semana passada, recebeu a presidente nacional da legenda, Gleisi Hofman, e o ex-ministro Jaques Wagner. Bem no momento em que os dois posavam de divergentes sobre Ciro Gomes.
Frei Boff, ao sair da visita a Lula. Foto Reprodução Mídia Ninja

Durante o período de prisão, Lula tem transmitido diversas mensagens à militância, sempre com o mote da resistência. Dessa vez, o principal recado veio por meio do amigo, o teólogo Leonardo Boff, que conseguiu ser recebido nesta segunda depois de ter sido impedido no último dia 19 de março. “Sou candidatíssimo”, disse Lula, segundo Boff.

Enfim, se o roteiro não mudar a curto prazo, o PT fará a convenção partidária em 28 de julho para oficializar a candidatura de Lula e planeja registrá-la em 15 de agosto. Até lá, arrastam-se as tentativas de seguir com o plano A. Os ministros da 2ª Turma do Supremo  Supremo – Edson Fachin (relator), Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello – começaram, na última sexta, 04, o julgamento virtual de um pedido de liberdade apresentado pela defesa do ex-presidente Lula. Os ministros da Suprema Corte têm até a próxima sexta-feira para apresentar o voto, mas podem fazê-lo antes.
Um mês após sua prisão, Lula espera o momento para apontar o dedo. Ainda que seja para si mesmo.
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