Mercado vê falta de proposta para a economia no programa do Aliança

A Aliança de Bolsonaro segue, curiosamente, a trilha dos presidentes Getúlio Vargas e Fernando Collor. Nenhum dos dois completou o mandato

Bolsonaro no lançamento do seu partido, o Aliança pelo Brasil - Foto Orlando Brito

O primeiro vagido no partido Aliança pelo Brasil soou um tanto decepcionante nos meios empresariais, os chamados mercados. Havia a expectativa de que algumas das propostas enunciadas pelo ministro Paulo Guedes para reformas do Estado e da economia entrassem no ideário da nova agremiação.

Entretanto, os discursos, tanto do presidente Jair Bolsonaro, como dos demais seguidores, não tocaram nem de longe nessas questões que interessam aos produtores da indústria e do comércio. Setor financeiro e agronegócio ficam em expectativa.

Pelo contrário, a Ordem Soberanista, denominação ideológica apresentada pela porta-voz oficial do Aliança, advogada Karina Kufa, ataca de frente um dos sonhos das classes produtoras, que é a globalização da economia de livre-mercado e a integração do Brasil nas cadeias produtivas mundiais. O programa anunciado na primeira convenção, quinta-feira, 21, foca em quatro pontos.

Ordem soberanista

Um deles destaca que a Ordem Soberanista é “oposição às falsas promessas do globalismo“. As demais teses do programa partidário são: respeito a Deus; respeito à memória e à cultura do povo brasileiro; defesa da vida; e garantia da ordem e da segurança.

“Deus, armas e oposição ao comunismo” constituem o lema básico apresentado na reunião de fundação no auditório do Hotel Tulip Tower, em Brasília. Com esta bandeira, o Aliança se propõe a antagonizar a esquerda ortodoxa, liderada pelo PT com seus aliados PCdoB, Psol e demais pequenos PCs; as chamadas centro-esquerda (PSB, PDT, etc.) e o centro liberal não encontraram ainda como se colocar nesses novos cenários, dizem os analistas políticos.

Família Bolsonaro. Por ora, a mais poderosa do Brasil

A família Bolsonaro inicia, depois dessa cerimônia da quinta-feira, a corrida de obstáculos para registrar seu partido, a tempo de participar como legenda independente das eleições municipais de 2020. Com a data de 21 de novembro para contar o início da prova, o presidente e seus filhos terão pouco mais de cinco meses para percorrer em alta velocidade as sucessivas barreiras da pista.

Neste particular, entretanto, não se deve confundir a Aliança com outros 76 pedidos de registro de partidos que tramitam na Justiça Eleitoral, com o fim de se convertem em legendas de aluguel. O partido da família do presidente surgiu justamente para se desvencilhar do PSL, a antiga legenda de aluguel que acolheu suas candidaturas.

A rebelião dos Bolsonaros seria uma forma de brecar o avanço dos antigos caciques sobre os fundos eleitorais públicos. Foi o que disse Jair Bolsonaro, ao se desfiliar.

No caminho de Vargas, Collor e Plínio

Por outro lado, a nova legenda não é um aglomerado qualquer, como tantos outros, pois nasce robusto e musculoso, como o partido do presidente da República em início de mandato. É muito poder.

O Aliança é um fato político e histórico relevante. Vai se juntar a outras poucas experiências brasileiras de partidos que se formam em torno de personalidades.

As experiências registradas seriam de Getúlio Vargas, patriarca do PTB, que o levou ao poder, Fernando Collor, fundador do efêmero PRN, que o elegeu presidente da República, e noutro campo, o PRP de Plínio Salgado, herdeiro do antigo Partido Integralista dos anos 1930. Bolsonaro inscreve-se nesta pequena lista.

Nenhum deles chegou ao final de seu mandato, tampouco Salgado logrou a presidência, embora fosse candidato duas vezes, mas derrotado nas urnas.

No País, desde o Império, os partidos se formaram em torno de classes, movimentos ou projetos de poder coletivos. Esta seria a quarta experiência num nicho que conta com a crônica de mais de mil partidos, desde os Regressistas da Regência, que depois se transformaram no Partido Conservador, que se revezava com o Partido Liberal nos comandos dos governos parlamentaristas da monarquia.

Bolsonaro vai percorrer esse arriscado caminho de Vargas, Collor e Plínio.

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