Joga a luva, Bolsonaro

Posto nas cordas pela CPI da Pandemia, queda de popularidade e fracasso na gestão, Bolsonaro pode entregar ao Centrão a indicação de mais um ministro do STF

A decadência do poder de Jair Bolsonaro é tamanha que ele mal finge que segue dando as cartas nas mais relevantes e constitucionais decisões presidenciais. Nem em seus atropelos ao Orçamento da União, que já ultrapassaram as pedaladas fiscais do impeachment de Dilma Rousseff, com o bilionário orçamento secreto para comprar apoio de parlamentares e alavancar candidaturas eleitorais de ministros e aliados.

Mais do que deixar no escaninho o discurso contra os grandes lobbies da corrupção, e uma gestão  liberal com austeridade fiscal, o governo se entregou de corpo e alma ao Centrão. Conseguiu a proeza de dar mais a essa insaciável turma mais do que todos seus enrolados antecessores. Soma-se a isso outra série de crime que vêm sendo investigados pela CPI da Pandemia e por variados órgãos públicos.

Dilma. Lula no Planalto. – Foto Orlando Brito

O pecado maior talvez seja a perda do controle das barganha com o Congresso Nacional. Fernando Henrique deu cargos e fez vista grossa até que as denúncias abatessem os ministros enrolados, Lula de alguma forma bancou o Mensalão e transferiu o Petrolão para Dilma Rousseff. Michel Temer governou, pelo bem e pelo mal, em parceria com a turma que dá as as cartas no parlamento.

Exceto Dilma no segundo mandato, bem ou mal, todos conseguiram conviver com essa galera do Centrão. Mas nenhum deles deixou que a escolha de ministro do Supremo Tribunal Federal, mesmo com todos lobbies e disputas, virasse um escancarada barganha.

Jair Bolsonaro e André Mendonça – Foto Orlando Brito

A sucessão do ministro aposentado do STF Marco Aurélio Mello, para a qual Jair Bolsonaro havia indicado o “terrivelmente evangélico” André Mendonça, começou por critério errado, e empacou em uma recusa mal explicada do senador Davi Alcolumbre de levá-la a votação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Essa teimosia, por mais que se atribua a pleitos pessoais de Alcolumbre, parece esconder o interesse do Centrão , depois do sucesso com Kassio Nunes Marques, emplacar mais um ministro no STF.

Ciro Nogueira e Flávia Arruda, ministros de Bolsonaro – Foto Orlando Brito

Criou um impasse inédito que todos os outros presidentes da República teriam tirado de letra. Nas cordas por tudo o que está acontecendo, Bolsonaro se omitiu e deixou o pau quebrar entre seus apoiadores e assessores diretos. O grupo evangélico que apoia a indicação de André Mendonça, o pastor Silas Malafaia à frente, sentiu o cheiro de queimado e partiu para o ataque contra alguns dos principais inquilinos de gabinetes palacianos, como os ministros Ciro Nogueira e Flávia Arruda. E teve o apoio do barulhento Roberto Jefferson.

Toda essa reação colocou na berlinda os candidatos do Centrão e de Acolumbre: Augusto Aras, procurador-geral da República, e Alexandre Cordeiro de Macedo, presidente do Cade.  No meio dessa confusão, como o critério é ser evangélico, a Igreja Universal do Reino de Deus pôs no páreo seu  bispo Marcos Pereira, deputado federal e presidente dos Republicanos.

O que no fundo está em jogo é um veto a André Mendonça por supostamente simpatizar com o combate à corrupção durante a Operação Lava Jato. Querem no STF alguém que não os incomodem. Querem impunidade. Como diria o narrador Gustavo Villani, Bolsonaro parece jogar a luva.

A conferir.

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