Do palanque ao parlatório, Bolsonaro mantém a farda do combate ideológico

Foto Orlando Brito

As palavras de Jair Bolsonaro no Congresso agradaram os parlamentares, alvo de um apelo por participação e união, mas este terá sido o discurso presidencial mais curto e genérico da história republicana recente. Ao som de “mito!” e “o capitão chegou!!”, entoados pela multidão, Bolsonaro repetiu a dose, em tom mais descontraído e emocionado, falando no parlatório do Planalto o que dizia no palanque: falou do combate à corrupção e à criminalidade, não deu detalhes sobre como consertar a economia e, acima de tudo, reforçou a postura de combatente ideológico.

Talvez seja mais fácil lembrar do que Bolsonaro não falou em nenhum dos dois lugares: como gerar empregos e renda, ou em como acabar com a desigualdade — ausências notórias no discurso de um presidente que toma posse num país cheio de iniquidades como o Brasil. No andar de cima, o establishment econômico notou outra ausência marcante, a da reforma da Previdência, que não foi expressamente citada em qualquer pronunciamento.

No parlatório, onde se deu a verdadeira festa da posse de Bolsonaro — com direito a discurso da primeira dama em libras — o presidente da República ficou à vontade para falar com todas as letras do que mais gosta, o combate ideológico. Afirmou que vai tirar o viés ideológico das Relações Exteriores, comparou no mesmo patamar de gravidade o desemprego recorde à ideologização das crianças e disse que sua posse marcava ”o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo”.

No ato final, o mais dramático, o presidente recém-empossado pegou a bandeira do Brasil e disse que “ela jamais será vermelha” — a não ser pelo sangue quem derramará para salvá-la…

O Brasil — que, em parte, pode estar até mais feliz — vai dormir neste 1 de janeiro sem saber o que não foi revelado nem na campanha, nem na transição e nem na posse: o que Jair Bolsonaro vai fazer de verdade para melhorar a vida de quem precisa.

 

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