Aprovar as reformas pode ajudar a recuperação da economia, diz Loyola

Cauteloso, o ex-presidente do Banco Central acha possível uma recuperação econômica rápida, após a crise sanitária do coronavírus, caso o Brasil retome imediatamente as reformas estruturais. Por enquanto, é preciso enfrentar a crise na saúde pública

O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central - Foto: Agência Brasil

Para o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, o ideal seria que a atual crise na economia tivesse um formado de um V, indicando uma queda de atividade causada pelo isolamento social seguida de uma recuperação econômica rápida.

Gustavo Loyola acredita que nestas circunstâncias a atuação do governo é imprescindível, mesmo para aquelas pessoas que praticam um credo mais liberal. A atuação tempestiva do governo para enfrentar a crise é fundamental tanto do lado fiscal como monetário.

“Apreendeu-se com a crise de 2008 que tem que se pensar um pouco fora da caixa. A crise traz exigências, pensar estratégias novas e adotar instrumentos novos para lidar como uma situação que não é uma repetição do que seria no passado”, disse Gustavo Loyola em uma conferência a analistas de mercado de uma grande instituição financeira do País.

Quanto mais rápido for a atuação fiscal e monetária, com injeção de recursos na economia, menor será o dano do processo de recuperação. Loyola acredita que a dívida em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB) deverá ser muito maior quando a crise passar. Caso o governo consiga fazer reformas para ajustar as contas públicas no Congresso isso poderia criar um ambiente otimista de retomada de crescimento da economia.

Veja a seguir as principais avaliações de Gustavo Loyola que já esteve à frente da Presidência do BC em duas ocasiões:

(*) Uma crise muito grave. Ainda não se tem mapeada suas consequências. Todos os governos estão reagindo muito forte à crise com estimulo à economia de um lado e de outro tentando deter a propagação do vírus e reduzir a mortalidade da pandemia.

Talvez seja uma das piores crises dos últimos 150 anos em termos de economia. Ela tem algumas características diferentes da crise de 2008. Alguns países têm melhores condições do que outros para reagir a crise, mas todos os governos têm que fazer o que está à sua disposição para reduzir as perdas humanas e sob o ponto de vista das perdas econômicas.

(*) A crise de 2008 se iniciou do mercado financeiro e se propagou ao mundo real da economia. A crise atual nasce do lado real da economia e pode ter propagação do lado financeiro. Evidentemente hoje você tem um sistema financeiro mais forte do que tinha em 2008 e 2009, embora em alguns casos tenham uma alavancagem excessiva. Mas o que aprendemos com a crise de 2008 é que é necessário ter ações coordenadas entre os governos de vários países e dentro dos próprios governos das autoridades monetárias, quanto fiscal. É preciso tempestividade nas ações buscando se antecipar aos fatos. A crise de 2008/2009, as autoridades de diversos países correram atrás da crise. Agora você precisa se antecipar à crise e tentar agir de maneira mais tempestiva.

Ministro Paulo Guedes, da Economia – Foto: Orlando Brito

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(*) Acredito que, em certas circunstâncias, a atuação do governo é imprescindível. Mesmo para aquelas pessoas que praticam um credo mais liberal, tem que deixar de lado um pouco isso, porque na realidade é isso que o momento exige: a presença do governo é mais importante. Isso vale tanto do lado fiscal como do lado monetário. Apreendeu-se também com a crise de 2008 que tem que se pensar um pouco fora da caixa. A crise traz exigências de você pensar estratégias novas, de instrumentos novos para lidar como uma situação que não é uma repetição do que seria no passado.

(*) O ideal a seria que esta crise, do ponto de vista da atividade econômica, tivesse um formado de um V: uma queda de atividade causada pelo distanciamento social e, após, uma recuperação rápida. A gente começa a ver algum tipo deste formato acontecendo na China, mas ainda é muito cedo para dizer, mas isso deveríamos buscar. O que isso quer dizer no fundo é que o sistema econômico ficou hibernando durante um período, mas ele conseguiu recuperar sua capacidade produtiva com as menores sequelas possíveis.

(*) As políticas públicas devem ter por objetivo proteger, de um lado, o sistema econômico e, de outro, as pessoas. Principalmente as camadas sociais mais vulneráveis, de menor renda. Então, é a necessidade de proteger as vidas humanas e de proteger o sistema econômico, a capacidade produtiva das empresas e os empregos.

(*) Em uma cenário mais negativo seria uma crise mais duradoura em que a economia global e brasileira ficasse derrapando, com sequelas com problemas nesta crise durante muito tempo. E sou a favor de medidas que ataquem rapidamente o problema, ainda que provoquem um queda da atividade mais forte no curto prazo, e que preservem esta capacidade de saída de médio e longo prazo.

(*) Embora o governo tenha que abrir seus cofres para injetar recursos para os mais necessitados, para os desempregados e empresas mais vulneráveis. A gente não pode esquecer que saindo da crise nós temos que retomar as reformas, a agenda de consolidação fiscal. O Brasil vai sair da crise com uma relação da dívida/PIB mais alta do que a gente estava projetando. Por isso, a necessidade muito maior da preservação da rigidez fiscal. Então, a agenda das reformas que o governo encaminhou ao congresso vai se tornar muito mais urgente. Evidentemente é compreensível que neste momento todos os esforços estejam voltados para debelar a crise, mas assim que a gente sair é necessário a retomada das reformas. Se isso acontecer, as expectativas sobre a economia brasileira vão ser muito otimistas. Pode haver uma retomada do otimismo. Como disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, a crise pegou o Brasil em uma situação distinta de muitos países. Aqui, nós tínhamos uma economia em recuperação, ainda que em uma recuperação relativamente lenta. Em outros países a economia estava em desaceleração. Isso pode eventualmente nos ajudar na saída da crise desde que não sejam abandonados as reformas, a responsabilidade fiscal e boa gestão.

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