AI-5 e a volta do crime de blasfêmia

Os tempos recomendam cautela e prudência às autoridades na hora de falar em público. Atenção ao índex das palavras malditas

Sob chuva, militares hasteiam a bandeira do Brasil. No fundo, o Congresso Nacional, símbolo máximo da democracia. Foto: Orlando Brito

Volta o crime de blasfêmia. Justificativa para as fogueiras dos atos de fé na Idade Média cristã, o presidente do STF, Dias Toffoli, sopra as brasas ao demonizar a expressão AI-5.

Assim, o ato maldito passa à frente de outras injúrias e assume a liderança do cordão das palavras perigosas politicamente incorretas referentes a gênero, raça, opção sexual e outras do leque do índex identitário, que têm poder de levar um cidadão para trás das grades. Bico calado é a nova regra. Eduardo Bolsonaro e Paulo Guedes que o digam. Estão à porta dos infernos pelos seus destemperos verbais.

Casca de banana é metáfora. Novo esporte do reportariado irreverente dos quebra-queixos, ir encurralando figurões inexperientes, até que soltem a palavra fatal. E daí sai um “Deus nos acuda”.

Resvalando na parede de microfones, aturdido pelos gritos das repórteres com suas perguntas para lá de diretas, o incauto solta a língua e, de uma hora para outra, vê-se como mentor ou arauto de uma conspiração sinistra para derrubar a democracia, escravizar e torturar os brasileiros. É o que parece a quem lê tudo ao pé da letra.

Presidente do STF, Dias Toffoli – Foto: Orlando Brito

Quando entra na roda um ministro do Supremo, que, mesmo negando, dá crédito à ameaça, vem um ministro da economia a falar em Washington, ainda capital do mundo, além do filho do presidente da República, o assunto perde o controle. Uma fake repetida muitas vezes vira uma pós-verdade.

Afinal, Toffoli é o presidente de um Poder, Guedes, o super ministro, e Eduardo, uma espécie de Uday Hussein tupiniquim, o todo poderoso filho do Manda-Chuva. É o que pareceria.

Paulo Guedes na entrevista nos Estados Unidos – Reprodução da TV

Assim, aos poucos, vai se formando a opinião no exterior. O fato em si é uma nuvem de fumaça, produto da falta de assunto da mídia e da imaginação limitada dos editores, própria a dar corda às redes sociais e gastar tinta para pintar letras garrafais.

Entretanto, quando isto passa a linha do equador para o norte e chega aos chamados mercados, ganham outra dimensão. Um público que ainda se confunde achando que a capital do Brasil é Buenos Aires, é presa fácil, não atina separar as coisas e toma tudo como lhe chega pela pena dos correspondentes internacionais sediados no País.

Os investidores estão com medo do Brasil. Muito vem desta confusão entre declarações de gente poderosa com disparates antes de políticos folclóricos, deveria ser separada, e não confundida. É um lado da moeda. O outro é a volta do índex das palavras malditas. Nos tempos do AI-5, a língua levou muita gente boa para trás das grades. Ojo, dizem os castelhanos.

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