Acordão e Lava Jato medem forças no plenário do STF

Mesmo sem repercussão geral, decisão do STF pode sinalizar para aonde sopram os ventos do tribunal

Presidente do STF, Dias Toffoli na Solenidade de Condecoração de Comendas da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho. Brasilia, 13/08/2019 - Foto Orlando Brito

Há meses, o ministro Dias Toffoli mantém em suas gavetas uma penca de questões que podem definir o passado, o presente e o futuro das grandes investigações sobre corrupção. Vem adiando, por exemplo, uma nova decisão sobre a prisão após condenação em segunda instância, a anulação de investigações baseadas em relatórios de órgãos de controle, o heterodoxo inquérito no Supremo sofre fake news, entre outras pendências. Ele optou por pautar a toque de caixa um caso que permite aferir tendências dos colegas sem arriscar posições assumidas no acordão com os presidentes Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia. É um teste também para os ministros que defendem a Lava Jato avaliarem suas próprias forças. Essa é a intenção, por exemplo, do ministro Edson Fachin.

O STF julga hoje a nulidade de processos e condenações em que os réus não se manifestaram nos autos após as alegações finais dos acusadores — caso que levou a Segunda Turma a anular a condenação de Adelmir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras. Mesmo sem, a princípio, ter repercussão geral, a expectativa é de que sejam explicitadas três posições reveladoras de tendências em outros embates previstos para o plenário do STF ainda este semestre.

Para a turma do acordão, a melhor solução seria simplesmente mandar refazer inquéritos e a anular sentenças em que a defesa não tenha dado a última palavra após a última manifestação do réu delator, tendo ela recorrido ou não ao  juiz antes do veredicto. Como a praxe nos julgamentos da Lava Jato sempre foi dar o mesmo prazo para as alegações finais, essa decisão poderia abrir a porteira para recursos em massa e uma anistia ampla para corruptos, sonho acalentado há tempos pelos principais caciques políticos. A segunda alternativa, a dos ministros mais alinhados com a Lava Jato, é simplesmente referendar os prazos concedidos por Sérgio Moro e outros juízes. Há uma terceira hipótese posta na mesa: beneficiar apenas os que recorreram por mais prazo para a defesa antes do julgamento. Segundo a Força Tarefa da Lava Jato, essa decisão beneficiaria cerca de 30 condenados, entre eles o ex-presidente Lula no caso do Sítio de Atibaia, considerado o mais complicado para os defensores do próprio Lula.

Pelo fato de não ser um caso de repercussão geral, o mais relevante no julgamento de hoje talvez seja revelar a tendência dos ministros do STF para futuros julgamentos.

A conferir.

 

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