Modesta Rachel de Queiroz, a primeira imortal da Academia Brasileira de Letras

A escritora e cronista cearense Rachel de Queiroz foi a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras. Prima do romancista José de Alencar, é autora de livros memoráveis, a exemplo de O Quinze, João Miguel, Caminho de Pedras, Memorial de Maria Moura e As Três Marias, O Brasileiro Perplexo, O Homem e o Tempo...

A profissão de jornalista proporciona encontro com personalidades realmente marcantes. Pela segunda vez naquele ano eu estava com Dona Rachel. A primeira foi na fazenda Não me Deixes, perto da cidade de Quixadá, no Ceará. Lugar modesto, sem nenhum arroubo de exagero, mas muito aprazível. Era uma reportagem para a revista Veja, onde eu trabalhava naquela época, na década 1990.

Contou-me que sempre se lembrava com tristeza da manhã de 12 de julho de 1967, quando o marechal Humberto de Alencar Castello Branco – primeiro presidente do regime militar que governou o Brasil de 1964 a 1985 – embarcou num pequeno avião na pista de seu sítio com destino a Fortaleza. Por instantes, Dona Rachel parou a narrativa. Depois de alguns segundos de silêncio, falou da tristeza de perder pessoas queridas. O bimotor que transportava seu amigo ex-presidente do Brasil colidiu com um caça da Força Aérea tirando-lhe a vida.

Mas dessa vez, eu estava com Rachel de Queiroz em seu apartamento, na Rua Rita Ludolf, no Leblon, no Rio. Eu havia ganho a Bolsa de Fotografia da Fundação Vitae, de São Paulo, e meu objetivo era retratar oitentões e noventões famosos, expoentes da cultura do Brasil. O trabalho resultou no livro Senhoras e senhores, publicado em 1993.

Tinha cumprido minha agenda com, por exemplo, os poetas Mário Quintana e João Cabral de Mello Neto, o compositor Zé Keti, os atores Grande Otelo, Henriqueta Brieba e Mário Lago, o cardeal Dom Hélder Câmara, a comediante Dercy Gonçalves, o palhaço Carequinha, o arquiteto Oscar Niemeyer, entre outros nomes importantes de nossa cultura.

A escritora foi, como sempre, extremamente agradável. E novamente pude perceber o quanto a modéstia e o desapego à vaidade eram características marcantes de sua personalidade.

Após os clics, na hora da entrevista, perguntei-lhe sobre o que pensava sobre a fama. E sua resposta, parafraseando uma personagem que merecia sua admiração, foi:

Greta Garbo já dizia que muitas pessoas passam uma metade da vida à procura da fama. E a outra metade, usando óculos escuros para esconder-se dela.

Dona Rachel, nasceu em Fortaleza, em novembro de 1910 e faleceu no Rio, em 2003.

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