Em pleno Carnaval: Supremo prende deputado. Vacinação à deriva. Bolsonaro amplia uso de armas

O deputado Daniel Silveira, do PSL, preso no Rio pela Polícia Federal por ordem do Supremo - Foto Orlando Brito

Como vimos, por conta da pandemia da Covid, o Carnaval foi aparentemente tranquilo. Aparentemente. Não houve os desfiles de escolas-samba nem o fervilhar dos blocos de folia nas ruas. E também não aconteceram os tradicionais bailes nos clubes em praticamente todo o país. Um ou outro caso de suicidas que se aglomeraram nas baladas em total desrespeito às determinações de governadores e prefeitos.

Mas enquanto Momo descansava, o Demo atuou. Longe das festas de carnaval um rol de más notícias aflorou e traz uma série de problemas. A Quarta-feira de Cinzas dá início a discussões que com certeza irão pontear os próximos dias.

Apoiador de Jair Bolsonaro pede interveção no STF – Foto Orlando Brito

Depois de dias em férias de carnaval no litoral de Santa Catarina, Jair Bolsonaro volta ao Planalto com várias questões sobre sua mesa. Várias. A começar por um fato considerado forte: a prisão de um aliado seu, o deputado Daniel Silveira, do Rio de Janeiro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. O parlamentar já estava incluído num processo de disseminação de fake-news e, agora, em um vídeo na Internet, voltou ao discurso antidemocrático e de ódio. Pregou o fechamento da Suprema Corte e a volta do Ato Institucional Número Cinco. Não pode. É crime pregar contra  a democracia.

(O AI-5 foi uma interferência na Constituição em 1968 que fechou o Congresso; cassou o mandato de parlamentares; instituiu a censura à imprensa, ao teatro e cinema; suspendeu os habeas-corpus; proibiu quaisquer reuniões de cidadãos e, enfim, permitia aos presidentes da ditadura militar agirem segundo seus critérios para manterem-se no poder.)

A prisão do deputado Daniel Silveira é produto da defesa que fez do general Eduardo Villas-Boas que em 2018 — quando era comandante do Exército e hoje na reserva — escreveu em seu Twitter alertas, depois reveladas em livro e que soaram como ameaças, sobre a decisão que o Supremo viria tomar na questão das condenações em segunda instância. Agora o tema voltou à baila com nova manifestação do militar. A reação do ministro Edson Fachin foi imediata. O magistrado considerou a palavra do general “intolerável e inaceitável”, incompatível com os preceitos da democracia por ir de encontro à ordem institucional. É outra “dor-de-cabeça” que vai parar no Congresso.

Bolsonaro passeia no jet-ski durante o carnaval
Manifestação de fãs de Bolsonaro em Brasília, pró-armas – Foto Orlando Brito

Outra novidade do carnaval: mais um dos ministros de Jair Bolsonaro, dessa vez Ricardo Salles, do Meio-Ambiente, é diagnosticado com a Covid. É o décimo quinto, aliás, a contrair o vírus corona. Na praia de São Francisco do Sul, o senhor que preside o Brasil passeou de jet-ski, sem máscara provocou aglomeração em suas lives com banhistas. Defendeu mais uma vez o fechamento de jornais. E ainda festejou sua decisão de aumentar o número do porte de armas para, segundo ele, “cidadãos de bem”. E novamente o tratamento com medicamentos sem bula para a Covid. No Congresso também a pronta reação de vários parlamentares, inclusive do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos. Consideram, que assunto de tamanha relevância deve sr discutido dentro do Parlamento e com a participação da sociedade. Até a bancada evangélica que apoia Bolsonaro é contra os decretos por considerá-los contradição aos valores religiosos. Sem falar do progressivo desgaste do embaixador Esnesto Araújo à frente do Ministério das Relações Exteriores e das desavenças com o vice Hamilton Mourão.

A crise da vacina também continua. De repente, o que parecia um programa de imunização cumprindo calendário com certa dose de regularidade, se apresenta um problemão. Constata-se que o fluxo de vacinas a serem disponbilizadas parece entrar em colapso pela falta o produto. São reflexo das postergação do governo em decidir-se pela compra dos imunizantes. Em consequência, será suspenso em quase todos os municípios. Há perceptível falta de logística e gestão. Para precaverem-se da proliferação do vírus, algumas cidades passam a adotar o toque de recolher, o caso de Salvador. E lockdown, de Araraquara, no interior de São Paulo. Hospitais lotados de pacientes acometidos pela Covid.

Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello – Foto Orlando Brito

O general Eduardo Pazuello terá reunião com governadores para falar da nova programação de vacinas. Conta que já adquiriu novo suprimento, de 54 milhões de doses da CoronaVac. Os prefeitos, afkitos e diante da situação real em suas cidades, protestam. Em nota da Confederação Nacional dos Municípios, instituição que os congrega, dizem ser “necessária, urgente e inevitável” a substituição do ministro da Saúde de Jair Bolsonaro. Acham que sua saída seria boa para o bem dos brasileiros.

A realidade das mortes pela Covid – Foto Orlando Brito

O certo é que a vacinação teve de ser interrompida em vários estados. Sabe-se agora da desorganização e desacerto — ou má fé — por parte de enfermeiros na hora de aplicar as doses nos idosos. E que há falta de profissionais de medicina capacitados e suficientes para o atendimento. Em Manaus, a mortandade continua, com o quíntuplo de óbitos em relação a outras capitais.

O número de mortos pelo Coronavírus no Brasil já ultrapassou a 240 mil.

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