Dom Pedro, Geisel e Bonifácio – O imperador, o general e o deputado

O deputado Zezinho e o presidente Ernesto - Foto Orlando Brito

Zezinho. Assim, esse diminutivo, era o apelido do deputado mineiro José Bonifácio Laffayette de Andrada, sobrinho-neto do reverenciado José Bonifácio de Andrada, o “Patriarca da Independência”.

O Bonifácio do tempo do Império era poeta, estrategista político, considerado um estadista. Foi a quem, em 1821, Dom João VI, antes de voltar para Portugal, confiou a formação política do jovem filho e príncipe Pedro, primeiro Imperador do Brasil.

Após cento e cinquenta e dois anos, a tradicional família Bonifácio voltava a participar da corte, agora no regime republicano. Dessa vez representada por Zezinho Bonifácio. Em 1973, Zezinho era o líder da ARENA–Aliança Renovadora Nacional, partido que apoiava incondicionalmente no Congresso as vontades dos presidentes do regime militar que governou o país de 1964 a 1985.

Zezinho de agora era visto por seus colegas de Parlamento como figura controversa e folclórica. E, sobretudo, cordata. Bem ao contrário de seu memorável tio-avô, José Bonifácio de Andrade e Silva, que no século dezenove, além de ser tutor de Dom Pedro I, foi conselheiro de Dom Pedro II.

Na Câmara, todos sabiam que diante da figura imperial e autoritária do presidente Ernesto Geisel, o Bonifácio de agora acatava sem ponderações as ordens que ouvia nos despachos que tinha no Palácio do Planalto. Repare bem nessa foto que fiz durante uma audiência do Zezinho com o presidente no gabinete presidencial. Ao vê-la publicada e, indignado com a postura de Zezinho, o parlamentar pernambucano Fernando Lyra – do combativo grupo autêntico do MDB, de oposição – lhe dirigiu a palavra durante um aparte:

Deputado Bonifácio, seja mais Andrada e menos Zezinho!

Zezinho Bonifácio (de terno cinza) e outros deputados deixam o Congresso, fechado pelo AI-5 em dezembro de 1968 – Foto Orlando Brito

Não era, aliás, a primeira vez que Zezinho ouvia a mesma frase. Fernando Lyra a repetia, recordando-se do dia 13 de dezembro de 1968, quando o foi editado o Ato Institucional número Cinco, interferência na Constituição com o qual o presidente Costa e Silva fechou o Congresso, cassou mandatos de parlamentares, estabeleceu a censura à imprensa, ao teatro, à música e ao cinema, e, enfim, restringiu as liberdades democráticas. Bonifácio Lafayette era presidente da Câmara e, quando houve a decretação do AI-5, deu entrevista diminuindo a importância do fato. O deputado carioca Celso Passos, então, bradou ao seu lado:

– Deputado, seja mais Andrada e menos Zezinho!

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