História – Caminhando e cantando

Caminhando e Cantando. Foto Orlando Brito

Quando o urbanista Lúcio Costa e o arquiteto Oscar Niemeyer trabalhavam no projeto da Nova Capital do Brasil, pensaram em um local onde as pessoas pudessem se reunir para manifestarem-se contra tudo, para onde acorreriam e dizer de seus anseios e demonstrar suas inquietações.

Atendendo ao pedido do presidente Juscelino Kubitschek, idealizador da cidade, Lúcio e Oscar decidiram que esse lugar, que chamaram de “Altar da Democracia”, seria o gramado em frente ao Congresso Nacional.

E foi justamente no espaço que ganhou depois o nome de “Praça do Povo” que, em 1969, populares fizeram esse protesto aí da foto contra o regime militar que governou o Brasil de 1964 a 1985.

O marechal Arthur da Costa e Silva presidia o País e havia sofrido uma embolia cerebral. Impossibilitado de governar, teve de ser afastado. Seu vice, Pedro Aleixo, era civil e foi descartado para substituí-lo. Mudou-se às pressas a Constituição e em seu lugar, assumia o poder uma junta militar composta pelo general Lira Tavares, pelo almirante Augusto Rademaker e pelo brigadeiro Márcio de Sousa e Melo.

A canção “Caminhando”, de autoria do compositor paraibano Geraldo Vandré, é uma das músicas brasileiras de maior simbolismo. Ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção, promovido pela TV-Rio, em 1968. Mas logo em seguida, teve sua execução proibida, durante os tempos brabos da censura, sob a alegação de que incitava a população à resistência contra regime vigente. Ainda assim, virou hino da resistência durante os chamados “anos de chumbo” no Brasil.

A música de Geraldo Vandré era sempre cantada nas manifestações políticas. Uma dessas muitas ocasiões foi essa aí da foto, que fiz ao passar pelo Congresso. Cerca de duas mil pessoas ocuparam a praça criada pelos doutores Lúcio e Oscar para, em frente à cúpula da Câmara, protestar contra a junta militar que assumia ao poder.

Pedro Aleixo e Costa e Silva

Mãos levantadas e folhetos impressos com a letra de Vandré entoavam “Prá Dizer Que Não Falei de Flores”, o outro título da música, à época proibida de ser executada nos rádios, nas tevês ou em recintos públicos.

Costa e Silva veio falecer em dezembro daquele ano. E a junta militar governou o Brasil durante 60 dias, de agosto a outubro de 1969, até que o Congresso teve de referendar o nome do general Garrastazu Médici como novo presidente do Brasil.

Orlando Brito

Deixe seu comentário