O mesmo mantra

O governo Dilma vivia sua agonia, mas continuava autossuficiente, acreditava na própria força, e mantinha uma postura que me trouxe reminiscências, assim, escrevi o seguinte:

O Gordon foi uma lanchonete do Rio de Janeiro que fez algum sucesso lá pelo final dos anos setenta, início dos anos oitenta. Uma era pré-McDonald’s ou Burger King. As lojas mais concorridas ficavam em Copacabana e na Praça General Osório, em Ipanema. Madrugada, ali pelas duas da manhã, eu e um amigo matávamos a fome pós-balada na loja de Ipanema. De repente, chega um carrão, que devia ser um Opala, com rodas talas largas e toca-fitas autorreverse. Sai um japonês com pinta de milionário, acompanhado de duas jovens estonteantes. Ambas vestidas para matar. Para lembrar, era o auge do sucesso do seriado Kung-Fu, uma verdadeira ode às artes marciais japonesas.

Bastava ser descendente, nissei ou sansei, para parecer o fodão. E foi vestido com esse figurino que o cara desceu do carro, olhando como se estivesse com um periscópio. Tudo ensaiado, o olhar desafiador, passos firmes, esbanjava confiança. Outros dois rapazes, com pinta de nativos, olharam e elogiaram as duas mulheres. Nada exagerado, nada grosseiro.

Mas o japonês ouviu e acusou o golpe. Partiu para tirar satisfação com a arrogância de quem exercia com primor todo o conhecimento marcial dos ancestrais. Os dois ouviram poucas e boas, até que, de saco cheio, um achou que era mais digno tomar uns cocorotes do que engolir tanto desaforo. Foi um arraso, o japonês apanhou mais que cão sem dono. Mais amassado que papel de pão, o japonês, mesmo arrebentado, desafiou o outro rapaz. Confiante, após assistir à surra aplicada pelo amigo, o rapaz desceu o cacete também. Depois das surras, o cara não perdeu a autoestima e a petulância.

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Arrebentado, mas com altivez, chamou as duas moças e foi embora. Todos comentamos o comportamento do japonês. Chegou, não comeu, apanhou e ainda saiu como se fosse o Nacional Kid, o herói. Por que me lembrei dessa história? Ora, por causa do PT, ou dos seus adeptos. Os caras lascaram o País, a saúde, a educação, a economia, as universidades, os empregos e, assim como o japonês, não perdem nunca a arrogância.

Acham que tudo só passa de perseguição ao Lula. Repetem obsessivamente que ele está preso porque lidera as pesquisas e vai ser eleito presidente de novo. Ora, quem o Lula ameaça assim? Governou com o agronegócio, com a fina flor do sistema financeiro, agradou as montadoras, não contrariou qualquer interesse de classe e nomeou quem quis para o judiciário. Chegou a hora de arrumar uma narrativa pra fora da seita.

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