Desafinando

A senadora Gleisi Hoiffmann. O compositor Ronaldo Boscoli

Há um livro interessante sobre a Bossa Nova que narra a história de uma figura muito controversa à época, mas que hoje seria tido como um multimídia: o quase sempre chamado de canalha Ronaldo Bôscoli. Não tinha o talento do maestro supremo Tom Jobim, não inventou a batida do João Gilberto e nem tinha o lirismo poético de Chico Buarque. Passou para a história como o conquistador inveterado, acusado de usar o poder de sedução para ascender profissional ou socialmente e, claro, provocar inveja em vários machos alfa.

O livro, no entanto, faz justiça à sua importância e seu talento. Chama-se “A Bossa do Lobo: Ronaldo Bôscoli”. O título é uma brincadeira com o namoro dele com a então quase adolescente Nara Leão. É de autoria do jornalista Denilson Monteiro, que auxiliou Nelson Motta na biografia definitiva de Tim Maia (“Vale tudo, o som e a fúria de Tim Maia”).
Sugiro inclusive um passeio nessas enciclopédias modernas para constatar quem eram Bôscoli e o autor da biografia.

Só para se ter ideia, ele, Ronaldo, produziu durante anos (com o auxílio luxuoso de Luiz Carlos Miéle) grandes shows de Roberto Carlos e é coautor de músicas para sempre como “O Barquinho” e “Ah!, se eu pudesse”. Assinou ainda a espetacular “Tributo a Martin Luther King”, música em parceria com o injustiçado Wilson Simonal.

Bôscoli namorou ou foi casado com Elis Regina, Nara Leão, Maysa Matarazzo e Mila Moreira. Sei, há mais. Aliás, ele me fez lembrar uma nota de Elio Gaspari, na ocasião da morte de Roger Vadim. Cito de memória o que o decano escreveu: no velório, um senhor velava com muita tristeza o cineasta francês, quando foi indagado por um repórter se conhecia o diretor e qual o motivo para tamanha deferência. Sem titubear, o consternado senhor cravou: – Precisa explicação para louvar quem dormiu com Brigitte Bardot, Catherine Deneuve e Jane Fonda?

Pois é, o Bôscoli era assim, e era também um grande frasista. Está lá no livro. Um dia, estava ele com um amigo (acho que assessor de imprensa) num inferninho da Prado Júnior, rua no início de Copacabana que concentrava bares e boates numa época ainda civilizada do Rio de Janeiro. No meio do papo, chegou um chato. Bôscoli, preocupado, virou-se para o amigo e alertou: – Cuidado com esse sujeito. Ele imita uma pessoa inteligente bem demais.

Pois bem, escrevo tudo isso para voltar ao “rame rame” diário e indagar:
– Porra, será que nem isso a Gleisi Hoffmann consegue?

E, como lembrou alguém nas grandes redes, é melhor alertá-la logo de que o festival Lollapalooza não é uma homenagem ao guia imortal dos Enroladinhos.

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