Dilma pode vencer em Minas, mas desarruma a aliança PT/PMDB

Dilma. Foto Orlando Brito

A ex-presidente Dilma Rousseff volta para as gerais 50 anos depois de partir. Ela transferiu para Belo Horizonte seu título de eleitora para reativar sua cidadania mineira e se inserir na política do estado. Neste momento ela se apresenta como uma opção do PT para disputar uma cadeira no Senado Federal. É aí que está a confusão.

A candidatura de Dilma chega em bom momento para um partido alquebrado porque as pesquisas indicam que ela poderia ser eleita no pleito majoritário. Entretanto, a por isto mesmo, ela desarruma a aliança de centro esquerda que está governando de Minas Gerais e que iria para a reeleição do governador Fernando Pimentel.

Com a candidatura da ex-presidente, os dois pretendentes naturais ficam em dificuldades, pois Dilma tira votos dos dois pré-candidatos. Um deles, o candidato do PT, firme até a volta da filha pródiga, deputado federal Reginaldo Lopes, perde a vaga, porque o é do aliado, o PMDB. O outro lugar na coligação é do atual presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adaldever Lopes do PMDB. A frente PT/PMDB precisa dos minutos de tevê para se viabilizar na eleição. Tudo certo até ela voltar.

O PMDB, liderado pelo ex-governador Newton Cardoso, aliado fiel do governador Fernando Pimentel e perdoado por seguir a linha nacional votando pelo impeachment da então presidente, teme Dilma no pleito. Segundo pesquisas, a ex-presidente amplia além do PT, tirando votos do candidato do PMDB. Já Reginaldo seria um parceiro mais adequado, pois seu eleitorado não ultrapassaria as fronteiras petistas.

Isto tudo porque os situacionistas, em Minas, acreditam que os tucanos terão uma vaga no Senado. Possivelmente do senador Aécio Neves, que não obstante seja espinafrado na mídia e nos conchavos, ainda bom de voto, segundo revelam pesquisas. Teve 23 por cento na última tomada de opinião do Paraná Pesquisas. Com isto, estaria de volta a Brasília.

Um cenário surrealista para quem não conhece Minas Gerais: os arquirrivais Aécio e Dilma sentados lado a lado na bancada do Senado Federal desfrutando as mesmas legislaturas.

Quatro anos antes, um derrubou o outro: Dilma bateu Aécio nas urnas e ele tirou a rival do Planalto no tapetão.

A volta de Dilma à sua Minas Gerais nativa é um desdobramento das vicissitudes na carreira da ex-presidente na política regional gaúcha. No Rio Grande do Sul ela foi um quadro de proa do PDT de Leonel Brizola. Participou com destaque dos governos pedetistas e foi chefe da Fundação de Economia e Estatística do PDT, o instituto de estudos dos partidos, ou seja, Dilma era ideóloga do trabalhismo ressuscitado depois da redemocratização.

No Rio Grande do Sul, foi secretária da Fazenda do município de Porto Alegre, na gestão do ex-prefeito pedetista Alceu Collares, entre 1986 e 1988, no mandato tampão em que as capitais recuperaram sua autonomia política. Três anos depois, com a vitória dos brizolistas, Dilma voltou ao governo como secretária de Minas e Energia do mesmo Alceu Collares, ocupando a pasta até 1994.

Em 1999, indicada pelo PDT, integrou o governo do petista Olívio Dutra, ainda como secretária de Minas e Energia. Em 1991 ela liderou uma dissidência no pedetismo, que não aceitou no rompimento com o governo do PT, aderindo ao partido de Luiz Inácio Lula da Silva. Aí começou nova trajetória, que a levou à presidência da República em 2010.

Esse rompimento com Brizola, entretanto não lhe rendeu uma boa acolhida no PT. Dilma e os demais trabalhistas foram bem recebidos no PT nacional, onde ela se reencontrou na trincheira com antigos companheiros da luta armada. No Rio Grande as feridas dos embates entre brizolistas e petistas não cicatrizaram, até hoje, por isto voltou para Minas Gerais.

Depois do impeachment, Dilma ainda espanava o pó de seu apartamento no aprazível bairro de Vila Assunção, às margens do majestoso Rio Guaíba, na Zona Sul de Porto Alegre, percebeu que não era bem-vinda e já viu os dentes arreganhados dos petistas rosnando para ela. Apenas seu antigo chefe abriu-lhe os braços, o ex-governador Olívio Dutra, líder de uma corrente à esquerda do rival da ex-presidente, o ex-ministro e ex-governador Tarso Genro.

O ex-governador Alceu Collares e outros remanescentes do trabalhismo pré-1964 que ainda militavam no PDT se ofereceram para acolhê-la de volta ao ninho. Entretanto, era uma cartada perdida, pois a grande maioria dos antigos militantes brizolistas já havia falecido ou estava afastada da política.

Os novos quadros do PDT do Rio Grande do Sul já perdiam as velhas raízes getulistas, embarcados no projeto de poder do PDT carioca do presidente Carlos Luppi, com seu candidato Ciro Gomes em campanha. Dilma estava fora desse projeto. Ficou à deriva, como muitos prefeitos do partido, o senador Lasier Martins e outros quadros relevantes de extração trabalhista da linha de Alberto Pasqualini deixavam a legenda. Não havia lugar para Dilma, pois seu candidato presidencial é outro, o ex-presidente Lula.

Então botou o governador Fernando Pimentel contra a parede, pedindo um lugar na sua Minas Gerais. Pimentel é um velho amigo dela e de seu falecido marido Carlos Araújo, companheiro de luta armada e de militância nos grupos guerrilheiros Colina e VAR-Palmares. Depois da prisão, Pimentel a visitava em Porto Alegre hospedava-se no solar dos Araújo, na praia de Ipanema, em Porto Alegre.

Pimentel não teve como escapar. Abrigou a velha amiga e enfrenta as dificuldades políticas de seu gesto. Afinal, Dilma não é uma petista qualquer. E mais do que isto, pode vencer a eleição, pois nas duas presidenciais que disputou ganhou dos tucanos em Minas Gerais. Se repetir o feito, está em Brasília para mais oito anos. Com seus votos ela pode ajudar a reeleger Fernando. É um trunfo.

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