Banco Central: retomada do crescimento depende de aumento do emprego

O Banco Central vê indícios de estabilização da atividade econômica, crescimento da produção industrial e queda dos preços dos alimentos. A retomada efetiva do crescimento, no entanto, dependerá do comportamento do mercado de trabalho. Enquanto não ocorrer uma melhora no emprego e na renda dos brasileiros, não haverá consumo para sustentar este ciclo de crescimento da economia. Hoje a maior parte da produção industrial está sendo exportada. A autoridade monetária também volta a falar em austeridade fiscal, uma das condições para o país crescer sem inflação.

Veja o que diz o BC em seu relatório sobre inflação:

“A tendência de queda do PIB, delineada desde o início de 2015, mostrou arrefecimento no segundo trimestre deste ano, quando o indicador apresentou recuo trimestral de 0,6%. Além disso, os resultados referentes ao segundo trimestre trouxeram indícios de estabilização da atividade econômica no curto prazo. As expansões, na margem, da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e da indústria constituem evidências nessa direção.

Destaquem‑se, nesse contexto, o crescimento da produção industrial após cinco trimestres de recuos e a elevação no investimento, interrompendo dez trimestres seguidos de contração. Prospectivamente, alguns indicadores de alta frequência também mostram sinais positivos, como os componentes de expectativas de índices de confiança, que têm mostrado alta consistente, e expectativas de crescimento do PIB em 2017 apuradas pela Pesquisa Focus. Ressalte‑se que as expectativas dos agentes econômicos, em patamares ainda reduzidos, e a ausência de dinamismo nos mercados de trabalho e de crédito indicam que a retomada da atividade econômica deve ocorrer de forma gradual.

Essa leitura da evolução recente da atividade econômica é corroborada pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central – Brasil (IBC‑Br), medida alternativa e mais tempestiva da trajetória da atividade econômica. Esse indicador também registrou arrefecimento do processo de retração da economia do país. Nesse sentido, o indicador retraiu 0,24% no trimestre encerrado em julho, em relação ao finalizado em abril, quando havia recuado 1,01%, no mesmo tipo de comparação, de acordo com dados dessazonalizados.

Dados divulgados mais recentemente ratificam a reação moderada na atividade industrial registrada no PIB relativo ao segundo trimestre do ano. De fato, por um lado, a evolução recente dos indicadores de estoques – que se situam próximos à média histórica, com ajuste lento e persistente – e da confiança dos empresários – com alta consistente nos últimos trimestres – sugerem condições favoráveis para a continuidade da retomada da produção, enquanto por outro lado, a fragilidade do consumo doméstico pode se constituir em vetor de restrição ao desempenho da indústria nos próximos meses. O índice de estoques da indústria, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 2,1 pontos no trimestre encerrado em agosto, em relação ao terminado em maio, atingindo o patamar médio de 109,1 pontos, considerados dados dessazonalizados, movimento consistente com o cenário mais benigno para a atividade fabril. A correção dos níveis de estoque, embora ocorresse em todas as categorias da indústria, foi mais intensa no segmento de bens de capital (8 pontos), consistente com um cenário prospectivo mais favorável ao investimento.

A evolução recente do Índice de Confiança da Indústria também corrobora a perspectiva de recuperação do setor, atingindo média de 85,5 pontos no trimestre terminado em agosto (77,3 pontos no finalizado em maio), segundo dados dessazonalizados da FGV. Registraram‑se elevações da confiança em todas as categorias de uso da indústria, particularmente no setor de bens de capital.

No médio prazo, a consolidação dos ajustes macroeconômicos e a redução de impactos negativos de eventos não econômicos sobre a atividade, tendem, também, a traduzir‑se em alocação mais eficiente dos fatores de produção da economia e em ganhos de produtividade.

O setor de serviços, embora registre seis recuos trimestrais consecutivos, apresentou sinais de acomodação na margem – principalmente nos setores mais correlacionados à atividade da indústria, como serviços de transportes –, evolução consistente com o aumento da confiança dos empresários do setor.

Sob a ótica da demanda, a evolução recente do PIB evidencia cenário menos favorável para o consumo, quando comparado ao investimento. Nesse sentido, a retração verificada nos gastos com consumo no segundo trimestre, dados dessazonalizados, mostra‑se consistente com a evolução nos últimos meses do mercado de crédito e com as reduções no rendimento médio e na massa salarial real.

Do lado do investimento a recuperação no mesmo período reflete, em parte, o desempenho positivo da indústria desde o início do ano e, sobretudo, o aumento expressivo dos indicadores de confiança empresarial.

No mercado de trabalho, o processo de distensão se manteve nos meses recentes, trajetória expressa por aumento da taxa de desemprego, por corte adicional de postos formais de trabalho e por retração dos rendimentos do trabalho, afetando consequentemente a massa salarial. Historicamente, o mercado de trabalho reage com defasagens à atividade econômica. Nesse sentido, melhora nos indicadores de emprego devem ser observadas de forma gradual após a consolidação de uma trajetória mais consistente de crescimento econômico.”

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