O triste realismo de Roberto Brant

Roberto Brant. - Foto Orlando Brito

À esquerda e à direita encontram-se militantes com dois desvios padrão de comportamento. São incapazes de refletir diante de cenários distintos e repetem chavões empoeirados.

Nesta cultura do raciocínio embargado cultivam-se anacronismos. Ora no campo institucional (demonizando ou endeusando sobremaneira a iniciativa privada, por exemplo), ora no de costumes (condenando o direito de cada um decidir sua orientação sexual, encampando a defesa intransigente do aborto).

Ambas as greis adotam dogmas, e dogmas não se discutem. Quando limitados a seitas, o efeito tende a afetar apenas seus seguidores. Quando a política os adota, perde-se a capacidade do raciocínio e da autocrítica, influenciando toda a sociedade.

Esta desvirtude, afortunadamente, não embota todos os pensamentos. Liberal ou direitista, a depender de quem o avalie, o ex-deputado federal Roberto Brant, em que pese sua proximidade com o governo do presidente Michel Temer, é autor de um triste diagnóstico de nossa realidade.

Ao Valor Econômico, fulminou: “Eu já não acredito mais na reforma da Previdência”. Ex-ministro da Previdência Social do presidente Fernando Henrique Cardoso, Brant traça um cenário desalentador para os próximos anos.

O País caminha para o “desastre fiscal”, prevê. Os gastos previdenciários tendem a ocupar espaço cada vez maior nas despesas da União, que têm limite para crescer por conta da PEC do Teto de Gastos, o que forçará o Governo a cortar em outras áreas.

Apenas uma eventual permanência de Temer à frente do comando da Nação indicaria alguma possibilidade de aprovar as reformas. Já um “presidente-tampão”, diz, liderará “um governo natimorto”.

Reformas sabotadas

Em 2018, quem pregar em favor das reformas não será eleito e o problema será adiado sine die, ou até que o caixa da União estoure de vez. “O Brasil foi vítima de uma bala perdida; quiseram atacar o Temer e atingiram o Brasil. Quem perde é o Brasil”.

Neste ponto faz um soturno diagnóstico das corporações que se apoderam do Estado. Para ele, o Ministério Público, ao patrocinar os grampos do magarefe Joesley Batista, não quis apenas atingir Temer, mas as reformas.

“Eles escolheram essa data com muito cuidado e abortaram as reformas”, aponta. “Não foi coincidência”.

Sórdido, mas não impossível. Tanto as associações de juízes como de procuradores trabalham com destemor contra a reforma da previdência. Esta trupe, altamente privilegiada com benefícios salariais vitalícios (mais do que os alvos de sempre, os parlamentares), é a que mais tem a perder com a equiparação de todos os sistemas previdenciários.

A análise de Brant não elimina a, no mínimo, perniciosa relação de Temer e Joesley, tampouco o temor de que o ex-deputado Eduardo Cunha, preso pela Lava-Jato, seja dono de segredos comprometedores do presidente da República. A verdade, às vezes, pode estar dos dois lados, diferentemente do que pregam extremistas de todos os matizes.

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