O preso que mais amedronta o Planalto

Eduardo Cunha. Foto: Orlando Brito

O pavoroso massacre que ceifou a vida de 56 presidiários em Manaus (AM) antecipou-se às esperadas dores de cabeça do presidente Michel Temer em 2017. Afinal, uma nova rebelião sangrenta como a da Penitenciária Anísio Jobim pode amplificar a imagem de descontrole do sistema prisional.

Porém, o preso que mais amedronta o Palácio do Planalto está em Pinhais (PR), a 2.742 km ao sul da capital do Amazonas. Lá está Eduardo Cunha, preso que, sozinho, apavora mais do que os chefes de quadrilha encarcerados nas masmorras brasileiras.

Transferido para a Penitenciária de Pinhais, nos arredores da capital Curitiba, o ex-presidente da Câmara deu sinais de que pode delatar os supostos esquemas de corrupção do PMDB e aliados. Por enquanto, recônditas ameaças.

Antes de ser preso, Cunha foi afastado da presidência da Câmara e depois cassado pelos colegas. A cada revés pululavam boatos de que o poderoso parlamentar aceitaria entregar correligionários em troca de uma condenação mais branda.

Transferido a contragosto para Pinhais, acusado pela Justiça suíça de suspeitas “óbvias” de “corrupção” e acossado pelo célere e inclemente juiz Sergio Moro, o ex-deputado assusta caciques do PMDB. Entre eles, o presidente Michel Temer – pois o que Cunha eventualmente revelar será encarado como verossímil.

Tanto que o advogado Renato Oliveira Ramos, ligado à Casa Civil da Presidência da República, visitou Cunha na carceragem da Polícia Federal em Curitiba pelo menos duas vezes. Uma hipótese é a de que sondava a respeito de uma eventual delação do aliado.

São poucos os acusados que, tendo o que entregar, rechaçam a delação premiada. Ou conseguem se safar sozinhos de uma sentença mais severa, ou resistem em nome de uma causa ou por lealdade aos sócios no crime.

José Dirceu, que já foi um dos mais poderosos líderes do PT, e José Vaccari Neto, ex-tesoureiro da legenda, são dois exemplos. Condenados, silenciaram alegando inocência.

E Cunha? Não tem com o que barganhar uma punição menor, sabe como se livrar do relho de Moro ou vai se manter fiel aos aliados? Isolado numa cela, tempo para elaborar a resposta é o que não falta ao peemedebista.

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