Sangria na Caixa não foi estancada

Banco Central e Caixa Econômica. Foto Orlando Brito

Tem sido enorme o esforço do Planalto para jogar água fria nos escândalos de corrupção da Caixa. A sorte tem ajudado, com um calendário animado de eventos, que incluiu do julgamento de Lula pelo TRF4 e seus primeiros desdobramentos às articulações para uma enésima tentativa de desenterrar a reforma da Previdência no plenário da Câmara. A situação, porém, não está assim tão sob controle como parece.

Há preocupação entre os governistas com os três ex-vice-presidentes da CEF – primeiro afastados e depois dispensados – que estão sob a chuva e o sereno, em péssimo estado psicológico, talvez propensos a fazer revelações e delações premiadas que passam por personagens que hoje habitam o Planalto.

O caso mais delicado é o de Antônio Carlos Ferreira, alvo de censura da comissão de Ética da Presidência nesta segunda-feira, junto com o ex-ministro do MDIC Marcos Pereira em razão de denúncias feitas com base em depoimentos de Joesley Batista sobre interferências políticas e pagamento de propinas para liberação de financiamentos da CEF.

Ferreira, ligado ao PRB, já teria, internamente, mostrado disposição para falar e acusar ex-colegas também afastados, como Roberto Derziê, indicado do PMDB, e Deusdina dos Reis Pereira, ligada ao PR. Nenhum dos dois também ficou feliz com o afastamento definitivo decretado na semana passada pelo novo conselho de administração da Caixa, que aprovou novo estatuto baseado na Lei das Estatais.

Derziê, por exemplo, é considerado uma espécie de homem-bomba por sua proximidade com os caciques do PMDB, sobretudo o grupo da Câmara, do qual faziam parte, além de Eduardo Cunha, o presidente Michel Temer e o ministro Moreira Franco.

Apesar de ter potencial para tanto – afinal, cobrar propina para liberação de financiamento é ato muito parecido com essa cobrança para fazer contratos de exploração de petróleo -, a corrupção na Caixa ainda não virou um Caixão, equiparável ao Petrolão ou ao Mensalão. Além da concorrência dos fatos, não parece haver nem nos investigadores e nem na mídia ímpeto para construir essa nova história.

Mas quem circula naquele prédio redondo do Setor Bancário Sul e nas adjacências do Planalto e da Esplanada não está convencido de que a sangria da CEF foi estancada. Pode haver novidades nos próximos dias, sobretudo com a proximidade da votação (ou não-votação) da Previdência.

 

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