Reforma política = anistia para os políticos

Gilmar Mendes é um dos articuladores dessa reforma política
Gilmar Mendes. Foto Joel Rodrigues/ObritoNews

A partir de agora, é preciso que se dê nome aos bois, deixando claro o que está acontecendo por trás de eufemismos e outros subterfúgios. Onde se lê “reforma política”, trazendo toda uma discussão sobre financiamento eleitoral público e voto em lista, leia-se anistia ampla e geral para os políticos da Lava Jato.

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E não só para os corriqueiros casos de caixa 2 não envolvendo propina nem corrupção – que, justiça seja feita, devem ter tratamento mais brando. A jogada em curso prevê a aprovação de um projeto de lei estabelecendo detalhadamente o que seria corrupção por parte de parlamentares, enumerando os atos necessários para comprová-la (como se isso fosse possível). Com isso, anistia-se também os que serão acusados de outros crimes, como corrupção e lavagem de dinheiro, na Lava Jato.

O líder do PT na Câmara, Ricardo Zaratini, revelou em discurso ontem parte dessa articulação – e, principalmente, mostrou que o PT está no acordo. Um almoço domingueiro na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com ministros e líderes governistas já discutira o tema, traçando as linhas gerais da solução.

O mais interessante é que estava lá também o presidente do TSE, Gilmar Mendes, hoje um dos principais articuladores dessa estratégia, peça essencial na interlocução Judiciário-Executivo-Legislativo. Coincidentemente ou não, Gilmar saiu dali direto para o Jaburu. Nesta quarta, o presidente Michel Temer se reúne oficialmente com ele e com os presidentes da Câmara e do Senado em torno da pomposa pauta: “Reforma Política”. Mas o objetivo da reunião será, mesmo, a salvação de todos – ou de quase todos.

Ainda é cedo para se prever se a articulação, tantas vezes fracassada no Congresso, desta vez terá sucesso. Tudo indica que sim, já que agora, para os políticos, não se trata mais de preservar o mandato ou a próxima eleição. A questão básica, para a maioria dos que vão aparacer hoje ou amanhã na Lista de Janot, é não ir para a cadeia.

O mais curioso disso tudo é que assim, a toque de caixa, o Brasil poderá finalmente presenciar uma reforma política, com medidas drásticas e polêmicas que sempre foram refugadas pelo Congresso, como o voto em lista e o financiamento público das campanhas…

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