Programa mínimo abre caminho para união entre PT e esquerdas no primeiro turno

Ciro Gomes, Foto Orlando Brito

A união das forças de centro-esquerda na eleição presidencial deste ano era, até pouco tempo atrás, sonho de uma noite de verão. Cada um com seu candidato, esses partidos estavam marcando de se encontrar apenas no segundo turno. Depois da condenação do ex-presidente Lula pelo TRF4, porém, boa parte dessas forças, ainda que sem admitir abertamente, passou a trabalhar tenazmente por uma aliança já no primeiro turno – sob o risco de, sozinho, nenhum deles chegar ao segundo.

O primeiro passo concreto dessa articulação será dado nesta terça, no ato de divulgação, em Brasília, do manifesto assinado pelas fundações do PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL com propostas de um programa mínimo para o país – que, aliás, fala muito pouco ou quase nada de candidaturas em outubro. Foi a condição para sair agora.

“É um documento amplo, que não foi elaborado em função das eleições. São propostas de natureza estrutural, um projeto de reconstrução do Estado brasileiro, em torno do qual há convergência nesses partidos. O ciclo político da Nova República, que começou em 1985, se completou e agora estamos diante de um impasse:”, explica o presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Marcio Pochmann, representante do PT na discussão.

Pochmann e demais signatários garantem que a discussão de nomes e candidaturas não entrou na pauta das reuniões – e nem podia, sob o risco de uma brigalhada inviabilizar a iniciativa. Mas o documento trata do papel do Estado, das estatais, do papel dos bancos públicos e de reformas política, tributária e do Judiciário. Há também um trecho sobre segurança, combate à violência e ao tráfico de drogas e modernização das Forças Armadas.

Integrantes de algumas alas do PT, e também de outros partidos da esquerda, vêem com naturalidade a evolução dessa conversa para uma aliança de primeiro turno, a se concretizar possivelmente no momento em que o TSE – se o fizer – negar o registro da candidatura do ex-presidente Lula, lá pela segunda quinzena de agosto. Até lá, todo mundo segue o script atual. Ciro Gomes (PDT), Manuela D’ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), assim como Lula, vão tocando suas candidaturas e vendo o que acontece nas pesquisas.

O PT, também sem admitir a retirada de Lula do páreo, trataria de colocar na vice de sua chapa um possível substituto de Lula no caso da impugnação – Fernando Haddad, Jaques Wagner ou outros petista. O vice dos sonhos, o empresário Josué Gomes, já deu sinais de que não aceitaria o posto.

Mas nada impede que o eventual vice na chapa de Lula venha a ser vice na chapa de algum outro candidato de esquerda que, nesse meio tempo, tenha se tornado mais promissor nas pesquisas. Ciro Gomes, por exemplo. Afinal, se durante esses anos todos eles apoiaram campanhas e governos petistas, por que agora o “venha a nós” não pode dar lugar ao “vosso reino”?

Há quem diga que a esfinge Lula, que sequer tem discutido a possibilidade de haver um Plano B petista com os dirigentes do partido, tem isso na cabeça. Não abre a discussão porque não é o momento de se enfraquecer, mas pode estar pensando bem mais adiante, como é de seu feitio. Fica na disputa o quanto puder, fazendo campanha, segurando a unidade petista e observando os outros. Depois, fará sua escolha.

Como todos os partidos de esquerda, sem exceção, tem esperanças de o escolhido ser o seu candidato, estarão lá nesta terça-feira, rente que nem pão quente, hipotecando solidariedade ao ex-presidente e assinando o manifesto com um programa mínimo de governo –  iniciativa, aliás, inédita na esquerda brasileira.

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