O Mercosul morreu. Só falta enterrar

Se isso é bom ou ruim a esta altura do campeonato, ainda há controvérsias, mas uma coisa é certa: o Mercosul implodiu. Nem mesmo os chanceleres dos principais países do grupo, incluindo o ministro José Serra, devem comparecer à reunião de cúpula marcada para esta segunda em Montevidéu. No centro da discórdia, para variar, a Venezuela.

Brasil, Paraguai e Argentina, que divergem entre si em outros assuntos, não querem ver o presidente Nicolas Maduro assumir a presidência rotativa do Mercosul agora em agosto, como determina a regra que alterna o posto entre seus membros por ordem alfabética. O Uruguai, que ocupa hoje a presidência,  quer passá-la para Maduro porque assim determina o regimento interno da aliança. E está instalado o impasse.

Talvez o erro de todos esses países seja  querer conduzir a política do bloco ao sabor de suas mudanças políticas internas. Isso aconteceu tanto quando a Venezuela entrou, como agora que querem se livrar dela. Na ocasião, em 2012, o Brasil de Dilma Rousseff, a Argentina de Cristina Kirschner e o Uruguai de Pepe Mujica resolveram suspender o Paraguai por ter aprovado o impeachment de Fernando Lugo e aproveitar a situação para incluir no grupo a Venezuela. Como o único membro contrário a isso sempre fora o Paraguai, que estava suspenso, o rito foi apressado e questionamentos de descumprimento da cláusula democrática, por exemplo, deixados em segundo plano. A Venezuela virou membro permanente antes de o Paraguai retornar ao bloco.

De lá para cá, porém, a América do Sul sofreu um cavalo-de-pau político-ideológico e todos os países, com exceção da Venezuela, mudaram de presidente. Não querem mais sentar à mesa com o polêmico Maduro, e não parece haver solução razoável à vista: se expulsam a Venezuela, não permitindo que assuma a presidência, estarão descumprindo uma regra básica do documento de fundação do Mercosul, o que desmoraliza a instituição. Por outro lado, se dão a presidência a Maduro, será inevitável o boicote às reuniões e demais ações do bloco. Para alguns dos novos chanceleres liberais, não há conversa nem concordância possível com os venezuelanos neste momento.

O Mercosul está morto. Só falta agora remover seus despojos.

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