O Brasil acabará com um meio-presidente na segunda-feira

A única certeza é de que não haverá tempo bom na segunda-feira. Além de mostrar o que há de mais podre nas entranhas do poder, o jogo pesado das últimas horas em que Planalto e oposição disputaram voto a voto, estimulando traições, desintegrando partidos e expondo uma vexaminosa troca de desaforos entre a presidente e seu vice, não deixa margem a dúvidas: essa batalha só deixará mortos e feridos.

A se confirmar a aprovação do pedido de impeachment, hipótese que ainda era a mais  provável, o vitorioso será Michel Temer. Mas  dificilmente será uma vitória acachapante ou inequívoca, daquelas que, pela larga margem de votos, dão ao lado vencedor força e legitimidade para impor a nova ordem. Na segunda-feira, teremos um Michel meio-presidente e uma Dilma ainda-presidenta, já que seu afastamento só deverá ser referendado pelo Senado de Renan Calheiros em pelo menos mais vinte dias.

Ainda assim, uma vez afastada, Dilma Rousseff habitará o Alvorada, que, pelas previsões, transformar-se-á num bunker do PT durante os meses de julgamento presidencial pelo Senado, que podem chegar a seis. O ex-presidente Lula vai entrar e sair do bunker enquanto comanda a reação do PT e dos movimentos sociais nas ruas. Os derrotados, que serão muitos, lançariam logo sua campanha pela realização de novas eleições.

Temer será obrigado a fazer algum tipo de ajuste fiscal, ainda que não vá colocar em prática os rigores do plano Uma Ponte Para o Futuro, que prevê de reforma da Previdência à desvinculação orçamentária dos recursos carimbados para saúde e educação – algo de que os movimentos ligados a esses setores não podem nem ouvir falar.

Michel Temer terá que mostrar um mínimo de governabilidade e resultados  concretos durante seu test-drive como interino.  Mas o PT e seus aliados farão de tudo para infernizar a sua vida e problemas como o desemprego e a inflação não vão ceder de uma hora para outra. Muito menos nos seis meses em que Temer será meio-presidente.

A outra possibilidade em jogo, a da vitória de Dilma no plenário neste domingo, também deixará um rastro de mortos e feridos, e não significará um ponto final na saga deste quarto governo petista pela sobrevivência. Depois de tudo o que foi dito e prometido por Dilma e Lula a seus apoiadores, não haverá outro caminho para o governo a não ser uma guinada à esquerda na economia. Adeus ajuste fiscal, para o bem e para o mal.

Dilma, que não vem governando porque tem canalizado todas as forças na luta para não cair, dificilmente o fará em plenitude se escapar desse impeachment. Até porque terá que dividir o comando com o ex-presidente Lula, num arranjo que tem tudo para dar errado, já que nenhum dos dois tem temperamento para ser meio-presidente…

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