Lula vai arbitrar disputa entre sectários e aliancistas

Lula com governadores aliados, em São Paulo. Foto Ricardo Stuckert/PT

Moisés guiou seu povo na travessia do Mar Vermelho, mas, por castigo divino, nunca entrou na Terra Santa. Ulysses Guimarães foi o timoneiro do PMDB que conduziu o país na transição para a democracia, mas não conseguiu, ele mesmo, ser presidente da República antes de morrer no mar. A história prega peças em seus líderes, que às vezes pagam com a própria vida – como Getúlio Vargas, por exemplo.

Tudo indica que o ex-presidente Lula morrerá na praia da inelegibilidade quando agosto chegar. Dificilmente, porém, deixará de ter papel fundamental na sucessão de 2018.

Está em suas mãos conduzir seu povo – ou uma boa parte dele – para uma candidatura alternativa do PT ou para o apoio a um outro nome no campo das esquerdas capaz de chegar ao segundo turno, vencer e dar continuidade ao projeto interrompido com a ascensão de Michel Temer e seu governo de centro-direita ao poder.

Embora sem admitir qualquer plano B até julho ou agosto, Lula será o árbitro da disputa que se desenhou nos últimos dias entre setores do PT que insistem em ter um candidato próprio no lugar do ex-presidente e os que acham que, sem uma ampla aliança com outros partidos de esquerda, as chances de vitória ficarão bem reduzidas. E que talvez seja a hora de o PT ceder, pela primeira vez, a cabeça de chapa a algum candidato que esteja melhor nas pesquisas.

Afinal, PDT, PCdoB e PSB estiveram ao lado do PT em todas as últimas eleições, e governaram junto nos anos Lula e Dilma. Por que não, agora, ceder a cabeça de chapa a um deles, se tiver um nome com mais chances do que as de um petista que, mesmo indicado por Lula, poderá chegar tarde e frágil ao páreo?

Por que não? No momento, o nome que parece ter mais chances de viabilidade é o de Ciro Gomes, do PDT, para quem a recíproca parece ser verdadeira – sem o apoio petista, dificilmente chegaria a um segundo turno.

Mas o tempo fechou, semana passada, quando Ciro jantou com o ex-prefeito Fernando Haddad, supostamente para falar desse assunto. Haddad foi desautorizado em casa e alvo da pancadartia de parte da cúpula do PT. O próprio Ciro – para disfarçar? – saiu batendo, dizendo que o PT não apóia ninguém.

Fim de conversa? Não. O PT apoiará, sim, se Lula mandar. E Ciro receberá esse apoio com um discurso manso e um convite de vice para um petista – provavelmente o próprio Haddad, que começa se desenhar como uma das fisionomias do PT do futuro.

Antes disso, porém, é preciso deixar de lado os sectarismos e abrir a porta ao futuro. Essa talvez seja, no atual momento histórico, a mais importante missão política de Lula – que anda uma esfinge mas, segundo amigos, já está olhando bem mais adiante.

O ex-presidente não vai jogar a toalha antes da hora, mas não descarta a possibilidade de passar à história como mais um líder que encarou o sacrifício para levar seu povo de volta a uma terra prometida.

 

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