A ira ensaiada de Renan

Senadores Gleisi Hoffman e Renan Calheiros batem boca durante sessão do Impeachment. Foto Orlando Brito

Ex-PCdoB, ex-líder do governo Collor, presidente do Senado pela segunda vez depois de ter dado a volta por cima de uma renúncia, investigado da Lava Jato que não teve até agora sua situação abalada e pai do jovem governador de Alagoas, o senador Renan Calheiros é um dos sujeitos mais espertos da República. Não dá ponto sem nó. É por isso que foi de caso pensado, e teve um propósito claro, seu aparente destempero de hoje de manhã no plenário, quando teve séria altercação com a petista Gleisi Hoffmann, o que forçou a suspensão da sessão para acalmar os ânimos.

Na verdade, segundo informam senadores próximos de Renan, ele agora conseguiu o que queria: um forte motivo para votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff na terça-feira. A briga pública com a senadora do PT, que na véspera dissera que o Senado não tem moral para julgar a presidente, foi a ponte para que Renan atravessasse definitivamente o Rubicão rumo ao governo Temer.

Até pouco tempo atrás, Renan Calheiros era o principal aliado do governo Dilma no Congresso, e como tal prestou favores inestimáveis. Mas os políticos são pragmáticos, e dizem que mais ainda os alagoanos. Desde que Michel Temer assumiu, Renan vem, devagar, se reaproximando dele. Facilitou as coisas em votações importantes de plenário, trabalhou para dar celeridade ao impeachment e foi até convidado para acompanhar Temer na viagem à China semana que vem.

Votar contra Dilma, pelo impeachment, é o passo que falta, mas o mais difícil. Renan terá que quebrar o tabu criado por ele mesmo de que, como presidente da Casa, tem que se manter isento e não votar. Só que o Palácio do Planalto está doido para ter o voto de Renan, uma espécie de troféu da vitória.

Tudo indica que agora o terá. Ao provocar um bate-boca com a senadora após ter mencionado o apoio que o Senado teria dado a ela e a seu marido, Paulo Bernardo, no episódio em que a PF tentou indiciá-los, Renan marcou sua posição. Não vai surpreender ninguém quando votar a favor do impeachment.

O presidente do Senado, aliás, já vinha ensaiando esse passo. Nos últimos dias, desabafou com colegas estar cansado de ser criticado pelos petistas, que segundo ele nunca agradeceram nem valorizaram seu apoio.

Renan planejou bem o ato de hoje, que começou como uma tentativa de apaziguar os ânimos: ontem mesmo foi visto em plenário lendo a frase de Nelson Rodrigues que mencionou na intervenção de hoje.

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