Intervenção e eleição: o jogo está na mesa

Governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. Foto Orlando Brito

Uma curiosa coincidência reuniu no mesmo dia dois fatos importantes para a definição do quadro eleitoral de outubro: 1) a decisão do presidente Michel Temer de decretar intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro; 2) o recuo do recuo do recuo de Luciano Huck, que anunciou que está mesmo fora da corrida presidencial. O que tem uma coisa a ver com a outra? Tudo.

Não há como reduzir a necessidade de se combater a insegurança e os desmandos no conflagrado Rio de Janeiro a uma mera questão eleitoreira. Alguma coisa precisava ser feita. Mas é óbvio que a súbita decisão de força do Planalto – por que só agora? -, mudando o foco do governo para esse tema, tem viés político e eleitoral.

Presidente Michel Temer.

Além de livrar o governo de uma derrota mais do que anunciada na reforma da Previdência – a Constituição proíbe o Congresso de votar emendas a seu texto em períodos de intervenção nos estados -, a jogada é a última tentativa de Temer de mudar o humor da população em relação a seu governo. Michel Temer não quer morrer de véspera. Mais do que isso, alimenta esperanças de, na reta final do ano eleitoral, recuperar um pouco de popularidade – se não a ponto de se cacifar como candidato, pelo menos para influir no jogo.

A hipótese é muito remota, mas existe: e se a intervenção na segurança do Rio, ao lado da melhoria nos números da economia, melhorar a popularidade do presidente? Como diz um líder governista (a respeito da natimorta Previdência), a esperança é a última que morre. E quem chegar vivo até outubro poderá ver.

Ao lado disso, a volta do que nunca foi, Luciano Huck, acabou com as esperanças de vastos setores da centro-direita de entrar na campanha com uma novidade capaz de fazer face a Lula ou seu eventual herdeiro e a Jair Bolsonaro. Ao que parece, não haverá novidade nem outsiders em 2008. O jogo é esse que está aí.

O apresentador Luciano Huck, Foto GShow

Que jogo? A centro-direita pulverizada entre diversas candidaturazinhas, mas Geraldo Alckmin, com mais estrutura partidária e com as credenciais e a caneta de governador de São Paulo, com mais chances do que os demais. Ao menos vai sobreviver ao processo de “cristianização” que havia sido iniciado pelos próprios tucanos defensores da opção Huck.

A tendência agora é que Rodrigo Maia, Henrique Meirelles e até Michel Temer continuem com suas postulações mais um pouco, mas sobretudo para se cacifarem na negociação para acabar numa aliança com o tucano. O DEM de Maia quer a vice e a garantia de que ele será presidente da Câmara em 2019. O governo quer ser defendido na campanha e negociar postos no futuro governo que assegurem o foro privilegiados aos palacianos enrolados na Justiça – caso do próprio presidente da República.

É isso que indica a lógica. A não ser que a intervenção no Rio produza tanto resultado que jogue um enxame de moscas azuis sobre Temer…

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