Ibope e Datafolha trombam nos números mas convergem nas tendências

Há discrepâncias entre as pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas nas últimas 24 horas, e é certo que nem todas elas podem ser explicadas pelas diferentes datas em que foram a campo uma e outra – o Datafolha na segunda-feira e o Ibope de sábado à segunda, possivelmente captando um ambiente de maior comoção com as facadas em Jair Bolsonaro. Em princípio, porém, os dois institutos coincidem no cenário básico que hoje mostra Jair Bolsonaro no segundo turno e, a uma distância razoável, quatro adversários embolados.

Isso é pouco, porém, para definir o retrato do momento, pois o que interessa, a essa altura, é o movimento de cada candidato. Examinadas sob esse aspecto, as duas pesquisas não divergem tanto, sobretudo se comparadas às anteriores da mesma série: o Datafolha de hoje em relação ao último, de 19 a 21 de agosto, e o Ibope com seu penúltimo levantamento, entre 17 e 19 de agosto.

Um traço comum às duas é o crescimento consistente de Fernando Haddad, que foi de 5pp no Datafolha (4% para 9%) e de 4pp pelo Ibope se comparados os 8% da pesquisa atual com os 4% que tinha em 19 de agosto, e não com os 6% que já tinha na semana passada. Não restam dúvidas de que está crescendo.

Ciro Gomes não teve a mesma sorte no Ibope e do Datafolha, mas em ambos está em segundo lugar. Ou seja, cresceu. Apesar de o Ibope de hoje dar a ele 11%, 1 pp abaixo da semana passada, seu crescimento foi captado na pesquisa anterior, quando passou de 9% a 12%. A duvida que fica é se ele continua crescendo, como pode apontar o Datafolha, ou se terá estagnado, como indica o Ibope.

A maior discrepância entre os institutos está no grau de crescimento de Jair Bolsonaro, que pelo Ibope de hoje subiu 4pp desde o atentado a faca, na semana passada, pulando de 22% em 5 de setembro para 26%. No DataFolha, oscilou na margem de erro de 20% para 22%. Como o Ibope saiu a campo logo em seguida ao atentado sofrido pelo candidato do PSL, supõe-se que pegou o eleitorado num estado emocional mais favorável a ele. Mas é só uma suposição, que pode explicar também a redução de 3pp na rejeição de Bolsonaro, a maior de todas (de 44% para 41%).

No Datafolha, a queda de Marina Silva (5pp) é mais intensa do que no Ibope (3pp), mas ela é outro traço comum aos dois cenários, o que indica que é um fato. A curva de Geraldo Alckmin tem o traçado semelhante ao do eletrocardiograma de um morto, uma reta que o deixa no patamar entre 8% e 10%, mas ainda vivo para os dois institutos. Os cenários sobre a disputa em segundo turno também variam bastante nos dois institutos.

Ainda haverá muitas pesquisas nos próximos 25 dias, e tempo suficiente para que Datafolha e Ibope se acertem. Acima de tudo, o que o desencontro entre os institutos reflete é o caráter imprevisível e o movimento volátil e nervoso da disputa, num sinal de que haverá muita emoção aos 45 minutos do segundo tempo.

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