Dilma fez o melhor discurso de sua vida, mas não mudará nada

Dilma Rousseff fala durante sessão do impeachment. Foto Orlando Brito

Dilma Rousseff fez o melhor discurso de sua vida. Alternou afirmações emocionais e trechos sobre a tortura com duras críticas às forças que apoiaram o impeachment e ao novo governo. Falou muitas vezes em golpe e em ruptura da democracia. Chegou às lágrimas em alguns momentos, mas não caiu no choro que passaria fraqueza e vitimização. Passa à história num raro ato de coragem, política e pessoal.

Posto isso, o que todo mundo quer saber é se suas palavras vão mudar alguma coisa no julgamento de hoje. Chances próximas de zero. Políticamente, Dilma Rousseff morreu de véspera, e em 24 horas não será mais presidente do Brasil.

O tom de Dilma, porém, deve acirrar os ânimos da sessão de julgamento, que abrirá agora a palavra aos senadores. Dilma fez exatamente aquilo que o Planalto e seus aliados temiam, ao falar em golpe e criticar duramente o governo Temer, ainda que sem citá-lo nominalmente.

O pau vai quebrar ao longo desta terça, e o que está em disputa é, sobretudo, a narrativa. O discurso forte de Dilma dá munição ao PT e seus aliados, que começam a trilhar os difíceis caminhos da oposição. Foi uma prévia do que estará em jogo nos próximos embates em torno de temas como o ajuste fiscal e o teto para os gastos públicos.

Os aliados de Temer sabem que vão sair do plenário como vencedores nos votos, mas não querem levar para casa a pecha de golpistas. Sabem que o momento é decisivo para definir esse discurso e vão fazer de tudo para sair dele. O Brasil assiste e a história julgará.

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