Deputados condicionam medidas anticorrupção a anistia do caixa 2

Juiz Sérgio Moro. Foto Orlando Brito

Muita gente estranhou a afirmação do juiz Sérgio Moro de que o Congresso precisa mostrar “de que lado está”, feita justamente numa reunião em que os integrantes da comissão que trata dos dez pontos contra a corrupção se deslocaram até Curitiba, cheios de boa vontade, para mostrar a ele a forma final do projeto – que acolhe a maioria das sugestões do Ministério Público. Na verdade, o recado de Moro tem como alvo um ponto específico: a anistia que virá para os parlamentares junto com o artigo que criminaliza o caixa 2.

Os negociadores do projeto evitam falar publicamente da anistia – objeto de uma tentativa frustada no plenário da Câmara há algumas semanas -, mas até as pulgas do tapete do Salão Verde sabem que o relatório do deputado Ônix Lorenzoni vai trazer de volta o assunto. Possivelmente, numa redação que deixe claro que o caixa 2, que será criminalizado, é diferente de propina e merece pena menor.

Há amplo apoio no Congresso a uma medida desse tipo, sobretudo às vésperas da delação premiada da Odebrecht e depois da prisão de Eduardo Cunha. Apesar de toda a pressão da mídia e da opinião pública, é bem provável que o texto seja aprovado.

Sergio Moro sabe disso e, obviamente, não apoia. Mas foi informado pelos deputados da comissão que é isso, ou nada. Ou seja, as dez medidas contra a corrupção só tem chance de ser aprovadas se embutirem esse contrabando. Por isso, o juiz está mandando recados, mas não abriu guerra contra o relatório Lorenzoni.

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