Aviso da velha política ao navegante Bolsonaro

Ao aprovar o aumento salarial dos ministros do STF nas barbas do presidente eleito, quase o mesmo tempo em que Jair Bolsonaro, entre um encontro institucional e outro, defendia o contrário, o Senado deu um recado da velha política ao novo presidente: as coisas não vão ser tão fáceis assim no Legislativo e, mais dia, menos dia, ele vai ter que fazer algumas das concessões que hoje diz rejeitar.

Senadores Romero Jucá e Eunício Oliveira

As eleições do mês passado dizimaram boa parte das raposas políticas que tinham os destinos do Congresso nas mãos, e dir-se-á que o que ocorreu no plenário do Senado nesta quarta terá sido o último canto do cisne, presidido inclusive por um senador não-reeleito, como Eunício Oliveira, ae aprovado por outros na mesma situação, como Romero Jucá. Não é bem assim. A renovação das duas Cssas legislativas, a mais alta em eleições recentes, parece ter sido bem maior do ponto de vista quantitativo do que qualitativo.

Ao fim e ao cabo, o recado dos caciques do Senado foi de que eles continuam muito vivos, e se organizam parar continuar dando as cartas. Renan Calheiros, bem reeleito, adotou um discurso de quem não faz questao,
mas está trabalhando como nunca, voto a voto, para se eleger presidente da Casa em fevereiro. Jucá perde o mandato mas continua por lá, presidindo o MDB.

Tereza Cristina, ministra da Agricultura do governo Bolsonaro. Foto Ailton Freitas

Na Câmara, que sofreu renovação de 50%, a formação de maioria também vai ser complexa, caso a caso, sobretudo se o presidente eleito continuar na linha de não distribuir ministérios. A indicação da deputada Tereza Cristina, ex-PSB e hoje DEM, mas sobretudo nomeada pela bancada ruralista, atiçou os apetites de partidos e grupos do Legislativo.

O roteiro previsto pelas raposas da política é que Bolsonaro conseguirá avançar na Previdência, talvez com uma legislação infraconstitucional este ano e com a aprovação da PEC que estipula a idade mínima e faz outras mudanças no ano que vem. Isso o Congresso dificilmente negará a um presidente recém-eleito. A governabilidade para o resto desses quatro anos, porém, não está garantida e vai depender de uma negociação muito mais profunda com o status quo parlamentar – falando mais cruamente, do toma-lá-dá-cá.

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