Anistia e delações no próximo capítulo

Juiz Sérgio Moro. Foto Orlando Brito

A novela está longe do fim. Depois da cassação de Eduardo Cunha e da denúncia contra o ex-presidente Lula, os próximos capítulos prometem manter forte carga dramática sobre os personagens da Lava Jato. Pelo menos dois fatos decisivos estão prestes a acontecer: 1. A revelação de novas delações, como as dos dirigentes da Odebrecht e, possivelmente, de Leo Pinheiro, que está retomando conversas com os procuradores; 2. Deve tomar corpo e vir a público a articulação para aprovar projeto que, ao mesmo tempo, tipifica o crime de caixa 2 e anistia quem o cometeu antes da lei.

O texto da chamada anistia via criminalização do caixa 2 já circula entre alguns parlamentares. O primeiro objetivo é reunir nos bastidores o apoio necessário para ser aprovado no Senado e na Câmara e aí votá-lo de forma rápida, sem grandes discussões. Suas chances de aprovação são inversamente proporcionais ao tempo que levar sua discussã, despertando reação mais forte dos investigadores do MP e da opinião pública.

Tudo dependerá, porém, das circunstâncias do momento e, sobretudo, da embalagem do projeto. O embrulho do pacote tem que ser bonito, e trazer medidas saneadoras e duras sanções para quem cometer o crime de caixa 2 – a partir de agora, é claro.

É possível que a anistia venha a público junto com uma espécie de “bode” a ser colocado na sala: uma proposta pior para os investigadores e o público, cujo debate centralize as atenções. Poderá ser, por exemplo, o projeto defendido por Renan Calheiros para punir o abuso de autoridade, sobretudo de procuradores que façam acusações pouco fundamentadas. Esta iniciativa ganhou força nos últimos dias, depois da estrepitosa denúncia dos procuradores de Curitiba contra o ex-presidente Lula.

Paralelamente às articulações dos políticos para escapar pela janela do caixa 2, vão entrar no cenário as novas delações. Podem trazer nomes que não apareceram ainda relacionados à Lava Jato, mas basta que confirmem o que já vazou ou foi ventilado pela imprensa para formar um novo tsunami sobre grandes partidos como o PMDB e o PSDB, indo além do sempre lembrado PT, que chegou ao fundo do poço com a denúncia a Lula – que deve se acolhida esta semana pelo juiz Sérgio Moro.

Há, ainda, outras pontas soltas e fios desencapados prestes a provocar curtos-circuitos em breve, e o ex-deputado Eduardo Cunha – que continua dando entrevistas e atirando – é mais uma delas. Como se vê, não há paz à vista. O sistema político continua operando no modo insegurança.

 

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