Conto de fadas

A reportagem política está sofrendo uma pane. Cronistas e repórteres deixaram de lado a investigação e o levantamento de informações e passaram a privilegiar suas presunções e vontades. Analistas se comportam como chefes políticos e dizem o que vai ou não acontecer. Mas nem sempre isso é assim.

A cobertura da candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin à Presidência deveria ser objeto de estudiosos. Até a semana passada, eram muitos os analistas que garantiam que o MDB estava para se sentar no colo dos tucanos. Mas como isso se revelou irreal, esta semana Alckmin estaria sendo anabolizado por outra frente.

A mídia publicou que o DEM estaria liderando uma frente partidária integrada pelo PP, Solidariedade e o PRB. O objetivo seria o de fortalecer o nome de Alckmin. Assim como a candidatura do presidente Michel Temer era de araque e o MDB só estava jogando, quem foi colocado nessa condição agora foram o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o DEM, o PP etc.

A eleição parece estar resolvida a favor de Alckmin. Mas vamos lá! O PRB, sigla evangélica, não tem porta-voz. Ela fala por si mesma, tanto que tem trabalhado para ampliar sua bancada no Congresso. O PP, a exemplo do MDB, é uma federação. O partido se posiciona em função dos interesses políticos locais.

Não há quem possa falar por ele. Muito menos ser liderado por quem (Maia) é um alienígena no partido. O PP do Sul está engalado pela candidatura de Jair Bolsonaro ao Planalto. O PP do Nordeste faz muito tempo que é apaixonado pelos votos do Lula. O presidente do partido, senador Ciro Nogueira, é da coligação pela reeleição do governador petista do Piauí.

O pessoal precisa começar a trabalhar e, por isso, não vou dar nomes. Mas o PSDB do Nordeste não está pensando em fazer campanha para Alckmin. Um tucano paulista resume a situação: “Está valendo a Lei de Murici, é cada um por si”. Os tucanos não tem um candidato viável a governador nos nove estados. Palanques para Alckmin?

Vamos a um exemplo emblemático. Em agosto de 2002, o senador cearense Tasso Jereissati deixou para trás o PSDB, e seu candidato José Serra, para fazer campanha para a Presidência para seu conterrâneo, Ciro Gomes. Agora, faz o mesmo, não quis ser candidato a governador do Ceará, justamente quando Ciro é novamente candidato. Ninguém vai investigar para verificar se ele está ou não fechado com o Ciro?

Repórteres e analistas poderiam ter se perguntado sobre os motivos pelos quais um dos vice-presidentes de Alckmin no PSDB, não participou da reunião da Executiva na semana passada (9/5). Não sei se é fato (pois não sou repórter), mas me contaram que Alckmin não tem diálogo com este ex-governador e candidato ao Senado. Parece que ele queria ter sido o candidato ao Planalto. Sabe, renovação?

Soube também por estes dias que o presidente do um partido centenário, e que é seu aliado de carteirinha, teria dito sobre sua candidatura: ‘É um picolé que está derretendo”. A gente nunca sabe se é verdadeiro, por isso é sempre preciso checar. Mas me contaram ainda que muitos tucanos não gostaram da forma pela qual ele tratou o ex-presidente de seu partido, o senador Aécio Neves. Antes mesmo de ser considerado culpado pela Justiça, o paulista já condenou o mineiro. E, determinou: “Vade retro”.

Governador Geraldo Alckmin

Alckmin vai de vento em popa pelo que leio em nossos ‘diligentes’ jornais e ouço em nossas ‘criteriosas’ TVs a cabo. Mas tucanos chamam a atenção para a recente pesquisa CNT/DMA. Alckmin foi governador do estado mais rico e de maior visibilidade do país, São Paulo, durante 12 anos e mesmo assim registra na pesquisa apenas 1,4% e 1,2% em menções espontâneas.

Este ‘desempenho’ talvez explique porque todos estariam atrás dele? Não exatamente os políticos, mas os ‘atilados’ jornalistas. Com certeza, Alckmin não deve ser desprezado, pois seu partido já presidiu o país por oito anos. Mas e os outros candidatos? Eles não se articulam? O PP tem ministérios no governo do MDB. Além da parte do partido que está com o PT e a outra que está com Bolsonaro, parece que tem uma turma que está com Henrique Meirelles, do MDB. O que está sobrando para Alckmin?

 

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