As lições dos últimos quatro anos

Richa, Alckmin e Aécio - Foto Orlando Brito

A vida não é justa. A vida é cheia de oportunidades e de oportunistas. A vida é para viver. Não adianta reclamar da vida. O grande compositor Gonzaguinha um dia se perguntou: “E a vida / Ela é maravilhosa ou é sofrimento / Ela é alegria ou lamento”. A vida é feita desses dois lados, mas como o poeta diria adiante: “Somos nós que fazemos a vida / Como der ou puder ou quiser”. Nesses quatro anos a vida tem nos pregado várias peças.

1. Os analistas políticos cometeram vários erros nesta eleição. Há dois anos estão prevendo que um dia Bolsonaro cairia nas pesquisas e que uma direita mais arejada, o PSDB, assumiria o protagonismo. Bolsonaro se manteve. Fica claro porque Geraldo Alckmin, Aécio Neves e outros foram expulsos da Avenida Paulista em um protesto pelo impeachment da ex-presidente Dilma. Esses analistas não viram isso é deram com os burros na água. E não farão nenhuma autocrítica. Os analistas políticos são como os políticos. Assim como o povo receberia fartos elogios se o candidato do “mercado” ganhasse, agora ele será execrado por exercer vontade diversa.

2. A maioria dos analistas políticos políticos se comportaram como se integrassem um partido único. Vamos traduzir sua conduta: “Tem gente que não acredita no que vê; tem gente que faz de conta que não vê o que vê; tem gente que rema contra a maré; e, tem gente que quando acorda fica de mau humor”. Foi agindo assim que estes senhores sempre colocaram em dúvida a capacidade do ex-presidente Lula transferir seus votos para seu candidato, Fernando Haddad. Estavam todos errados. Na última pesquisa que testava as intenções de voto em Lula, nos primeiros dias de setembro, o petista tinha 21% na espontânea e 37% na estimulada. O candidato Haddad está com 22% e tem sete dias para atingir seu teto para o primeiro turno. Lula está transferindo seus votos. Mas aos equivocados sempre lhes restará a saída de criticar os eleitores. A culpa é deles, e de suas deficiências. A bola de cristal que carregam nas mãos lhes previu um cenário que não é deste, mas de outro mundo.

3. O ex-presidente do PSDB, futuro deputado Aécio Neves, e o então líder na Câmara, Carlos Sampaio, erraram ao não se conformar com a derrota e questionar o resultado das eleições de 2014. Esses tucanos não podiam esperar mais quatro anos e outros se omitiram. Por isso, embarcaram e embalaram o impeachment. Os analistas políticos deram sustentação retórica à conduta da tucanagem. Sobre esse erro tático e estratégico, o ex-presidente dos tucanos, senador Tasso Jereissati, fez uma autocrítica isolada e sem qualquer apoio em recente entrevista ao jornal O ESTADÃO. Apanhou de seus parceiros. A maioria dos tucanos continuam apoiando a derrubada da ex-presidente Dilma e a entrada como sócios do governo do atual presidente, Michel Temer. Os tucanos pagam a conta agora. Não convenceram a maioria dos eleitores que são oposição a tudo o que aí está, que representam uma renovação e que vão consertar o país.

4. Os erros acima são conjunturais e podem ser corrigidos nos próximos anos. Mas há erros que serão carregados pelo resto da vida. Os ex-governadores Geraldo Alckmin, candidato a presidente, Beto Richa e Marconi Perillo, candidatos ao Senado, estão experimentando o doce veneno com o qual lambuzaram seus adversários. Até parece que quando a Lava Jato começou eles não acreditavam que os mesmos critérios usados para punir seus adversários seriam usados contra eles. Eles passaram meses à fio adulando o Ministério Público e o Poder Judiciário. Agora, quando os mesmos argumentos são usados contra o PSDB, não adianta espernear. Eles já ajudaram, digamos assim, a criar um monstro.

Bom. Já escrevemos demais. Vamos ficar por aqui.

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