Se a questão é legitimidade, quem põe mandato na roda para eleições gerais?

Manifestações com a palavra de ordem “fora, Temer” pipocam por ali e aqui. Sempre foram previsíveis. Querer questioná-las por seu tamanho, como já fez o próprio Michel Temer e alguns de seus ministros mais chegados, é repetir a estratégia equivocada que, em vários momentos, apostaram porta-vozes de Dilma Rousseff.

Parecem carentes de popularidade. Nem precisa de pesquisa para apurar que os políticos em geral estão no fundo do poço. Imagine Dilma e Temer, que se apresentaram juntos pedindo o voto de todos.

O entorno de Temer parece ignorar que desqualificar manifestações pode até estimular seu crescimento. Se isso ocorrer, certamente a saia justa será mais apertada.

Basta olhar para perceber que, no meio de meia dúzia ou de milhares, ninguém pede “volta, Dilma”. Essa página foi virada.

Depois de bater muita cabeça, petistas e seus aliados acrescentaram ao discurso de “golpe parlamentar” um arremedo do histórico movimento “diretas, já”.

Como bem disse o bom e velho Karl Marx, em uma reflexão sobre bela sacada do filósofo Hegel, outro mestre, na história a tragédia costuma se repetir como farsa.

Pelas regras constitucionais, no impeachment de Dilma, fora a pedalada do ministro Ricardo Lewandowski, tudo foi cumprido dentro da mais absoluta legalidade. Mas, esses novos movimentos de petistas e aliados nas ruas – pequenos ou não; tardios ou não –, tentam se sustentar em outra palavra de ordem: legitimidade.

A alegação de que Michel Temer não foi legalmente eleito brandida por quem votou na chapa em que Dilma e ele foram eleitos beira ao ridículo. Portanto, na minha avaliação, só é discutível o argumento da legitimidade.

Vamos a ele. Uns mais, outros menos, de maneira quase generalizada, os políticos brasileiros estão no banco dos réus. Sobram alguns poucos. O que se apurou até aqui na Lava Jato e em outras investigações é devastador. A casa caiu. Com ela, a legalidade e a legitimidade de quem exerce mandatos conquistados em eleições também suspeitas.

Então, o resgate da legitimidade não pode ser seletivo. Dilma dançou porque se comprovou que ela infringiu a Lei de Responsabilidade Fiscal. Por mais que isso pareça pouco para quem foi contra a cassação de seu mandato, ela tem amparo legal.

Pelo menos até agora, os supostos pecados exclusivos de Temer não se confirmam como ilegalidades. Há indícios.  O ex-senador Sérgio Machado, operador do PMDB em esquemas milionários na Transpetro, subsidiária da Petrobras, apontou o dedo. Pelo que se sabe, ainda não comprovou.

Na vida real, às vezes vale mais a legitimidade. Se valer o critério de dedo apontado, também não sobra praticamente ninguém no comando da Câmara e do Senado. Se for levado em conta o conjunto da obra de quase todos os caciques políticos, quase ninguém escapa.

Assim, pondo a legitimidade como principal critério, só há uma solução: eleições gerais. Como nova disputa presidencial, elas só são viáveis se aprovadas pelo Congresso. Quem topa? Pergunte a deputados e senadores. Peguntei. Reposta praticamente unânime: nem pensar. Ninguém parece disposto a pôr o mandato na roda. O resto é a hipocrisia de sempre.

 

 

 

 

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