Por que o Exército aposta seu cacife na intervenção na segurança do Rio

Foto Orlando Brito

Os prognósticos dos analistas de plantão, especialistas de todos os naipes, militares da reserva, e até de Jair Bolsonaro foram unânimes: Exército, Marinha e Aeronáutica reagiriam mal à tacada de Michel Temer de decretar intervenção na segurança do Rio de Janeiro.

Todos erraram.

Para surpresa geral, as Forças Armadas deram sua benção. O Exército encarou o pepino como um bom desafio. Chamou a responsabilidade para si, está escalando seus melhores quadros para comandar as operações, tentar baixar a bola da violência e dar um jeito nas complicadas polícias do Rio.

O que explica isso?

Quem está perto dos comandantes militares diz que há razões táticas e estratégicas para pôr tantas fichas nessa aposta.

Os militares veem a intervenção como uma oportunidade para conseguirem maiores orçamentos e alavancar carreiras, motivos óbvios. “Mas o principal é demonstrar ao país a sua capacidade de lidar, e de resolver, situações críticas, conquistando reconhecimento”, justificou uma fonte da linha de frente desse processo de intervenção no Rio de Janeiro.

Tropa do Exército Brasileiro, Força de Paz no Haiti – Foto Orlando Brito

O que sustenta esse otimismo foi o sucesso em missões espinhosas no exterior como no Haiti. A partir delas, foram feitos  estudos de como aplicar essa experiência aqui. São trabalhos minuciosos, que impressionam também pela logística impecável.

Eles complementam o que se aprendeu, nas últimas décadas, em várias missões militares no Rio, ostensivas e na área de inteligência.

Ao longo do tempo, as Forças Armadas têm mudado o foco. No passado, a preparação mirava guerras com vizinhos como a Argentina. Depois, a Amazônia virou prioridade. Para a Marinha, incluindo seu projeto de submarino nuclear, a atenção especial é no petróleo do pré-sal.

Bons enfoques. Na frente interna, porém, os militares ainda pagam a conta pela ditadura de 64. Por mais que busquem amenizá-la, mesmo sendo de outras gerações, continuam com um certo engasgo pelas indefensáveis torturas, assassinatos, censuras e medo espalhados.

Eles sabem disso. Daí sua maior aposta no Rio.

Diferente do receio de que se faça ali uma carnificina, querem usar a força com o propósito de alcançar algum tipo de paz, que justifique suas ações, e os reconcilie de vez com a democracia.

A conferir.

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