O ataque é a arma de defesa de Gilmar

Gilmar Mendes. Foto Joel Rodrigues

A luz vermelha nas disputas dentro das elites no poder costuma acender quando elas se sentem ameaçadas pelo mesmo perigo. Num piscar de olhos, surgem convergências.

É aí, nesse mundinho de cortes, que rolam inusitadas simbioses. Nas grandes questões e na sobrevivência no topo no dia a dia.

É nesse jogo que Gilmar Mendes tenta se manter à tona. Sua ousadia o manteve um passo a frente no ataque. Ele também aprendeu, com quem convive e julga, como reagir diante de acusações ou situações incômodas.

Em seus múltiplos papéis de juiz, interlocutor de políticos, e empresário, Gilmar segue o manual dessa turma de como andar sobre as brasas.

Quem acompanha seus movimentos, identifica reações prescritas em todas as cartilhas confeccionadas pelas variadas mãos de políticos profissionais, advogados e assessores de crise.

Mesmo com pegadas óbvias, elas continuam valorizadas. As mais frequentes:

1)– O ataque pode ser a melhor defesa;

2) — Negue enquanto puder e sempre evite se compromete

3)– Seja evasivo quando não tiver uma resposta adequada.

A regra número 1 Gilmar seguiu à risca. Com suas declarações controversas e canetadas no STF e no TSE, manteve-se na ofensiva e no topo das polêmicas na mídia e nas redes sociais.

Assim, nem deu espaço para maiores repercussões de acusações de que estaria misturando seus negócios privados com sua atuação de magistrado.

Nem todas as questões são novas. O que chama a atenção é a dificuldade de Gilmar de se defender de saias justas previsíveis para as quais deveria ter as respostas na ponta da língua.

Ele costuma se enrolar em todas as perguntas em que a advogada Dalide Corrêa também é protagonista. Dalide foi seu braço-direito no Supremo e no tal IDP, o Instituto Brasiliense de Direito Público, um lucrativo negócio particular de Gilmar que causa controvérsias desde a sua criação.

Dalide é tudo isso e algo mais.  Durante anos, não houve dúvida para os mais variados interlocutores de que, em todas as tratativas, ela falava em nome de Gilmar. É o que sempre se ouviu de políticos, empresários e no próprio mundo jurídico, inclusive entre colegas na Justiça e professores do IDP.

Gilmar tem sido afirmativo em suas sentenças como ministro e nos ataques aos trabalhos alheios. Muda de postura quando confrontado com decisões em que teria, no mínimo, misturado canetadas como juiz com interesses pessoais.

Ele chegou a ser patético em uma entrevista à Veja na qual foi evasivo, com respostas tipo “não sei”, “pode ter sido”, “não me lembro”, entre outras do mesmo naipe.

O que mais chocou nessa entrevista foi sua aparente falta de noção diante de avaliações óbvias para quem é investido do poder máximo de julgamento no país.

O caso: a JBS comprou uma fazenda de 300 hectares em Mato Grosso que estava arrendada a Francisco Mendes, irmão de Gilmar, que ali plantava soja e crivava gado.

Mesmo depois da venda entre terceiros, o irmão de Gilmar quis continuar a explorar as terras.  Para que ele conseguisse isso, Dalide Corrêa entrou no circuito, usou seu prestígio, e convenceu a JBS a atender a tão ilustre pedido.

É justamente a esse negócio específico que as respostas de Gilmar mais se parecem com habituais defesas de uma penca de políticos incluídos em sua pauta de julgamento.

A elas:

Veja — O senhor se recorda de a JBS ter sido acionada por sua assessoria para resolver um problema fundiário de seu irmão?

Gilmar – Não tenho conhecimento.

Veja – Em um áudio enviado ao senhor, Francisco de Assis (diretor jurídico da JBS) diz que resolveu o problema.

Gilmar – Agora estou lembrado. A Dalide me falou isso e disse claramente que meu irmão teria pedido a ela.

Veja – É natural pedir esse tipo de favor a uma empresa com interesses no Supremo?

Gilmar – Favor? Não fiz nenhum pedido a eles.

Simples assim.

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