A insaciável sede da base de Temer

Deputado e ministro Carlos Marun

No começo da noite dessa terça-feira (18), um rapaz meio afoito entrou no lotado Cafezinho dos Deputados. O plenário acabava de rejeitar o pedido de urgência para a reforma trabalhista, resultado que causou perplexidade no Palácio do Planalto e entre as lideranças governistas.

O rapaz se aproximou de uma mesa em que o deputado Lúcio Vieira Lima tentava explicar a surpreendente derrota, e, sem a menor cerimônia, disparou: “Isso aconteceu porque o governo nos deixa com sede. Não custava nada nos dar um pouco de água”. E acrescentou:

— No meu caso, são só três emendas.

O rapaz se chama André Amaral, 26 anos, desde janeiro é deputado federal pelo PMDB na Paraíba na vaga aberta pela eleição de Manoel Junior para vice-prefeito de João Pessoa. O titular Júnior foi eleito com 105 mil votos e André conquistou a suplência com apenas 6,5 mil.

André foi um dos 16 deputados do PMDB que simplesmente não votaram.

O novato André não é exceção. Logo após a derrota, no gabinete da liderança do PMDB, o deputado Carlos Marun (MS), com seu vozeirão, defendia mais poder para o partido:

— O PSB não votou com a gente. Temos que nomear um dos nossos para o Ministério das Minas e Energia.

Marun chegou a dizer que o cargo deveria ser ocupado por um colega mineiro. Esse detalhe talvez tenha sido motivado pela presença na roda do deputado Newton Cardoso Júnior, que, a exemplo de toda a bancada mineira, há tempos reivindica uma vaga na equipe de Michel Temer

O PSB de fato foi um ponto fora da curva na votação. Apenas um terço da bancada votou com o governo. Nenhum dos sete deputados eleitos por Pernambuco, a mais forte seção do partido, seguiu a orientação do conterrâneo Fernando Coelho Filho, ministro das Minas e Energia.

A turma do PMDB também se queixou do PPS. Com dois ministros, só três dos oito deputados votaram com o governo, quatro simplesmente se ausentaram.

Na avaliação de alguns caciques do governo, o que foi decisivo na derrota foi um certo desleixo. “Na reunião que tivermos com Rodrigo Maia ninguém sequer imaginou a hipótese de não aprovar a urgência”, disse, surpreso, o deputado Lelo Coimbra, líder da Maioria na Câmara.

O próprio Rodrigo Maia acabou colaborando para a derrota ao encerrar a votação tendo votado menos de 400 deputados por, também, nem cogitar a possibilidade de não aprovar a urgência para a reforma trabalhista.

Depois do susto, o governo se mexeu e deu uma demonstração de força ao aprovar, com ampla margem de votos, o texto base do projeto de socorro aos estados quebrados.

Os governistas prometem aprovar a urgência para a reforma trabalhista sem nenhum susto nessa quarta-feira (19).

Tiveram uma noite inteira para saciar sua sedenta base parlamentar.

A conferir.

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