Guedes pula fora da frigideira e paga para ver a nova aposta de Bolsonaro

Ao estrear a frigideira, Mandetta saiu sem estrilar. Sérgio Moro chutou o pau da barraca ao pedir demissão. Paulo Guedes atira ainda dentro do governo. São revezes para Bolsonaro que teme o passado, o presente e o futuro

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes no Planalto - Foto Orlando Brito

Além de um mundinho estreito de branco e preto em pautas conservadoras pobres de conteúdo, o olhar de Jair Bolsonaro é, ao mesmo tempo, embaçado por sua notória ignorância, e pela adesão a quem pode lhe abreviar o caminho. Vendeu como os dois grandes pilares de seu governo os anunciados superministros da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e de toda a Economia, Paulo Guedes, seu Posto Ipiranga.

A fantasia foi boa e mantida enquanto durou. Os fantasmas do passado do clã Bolsonaro atropelaram a ilusão de que havia dado carta branca aos dois pilares do governo. A farsa começou a se mostrar aonde menos se esperava. O medo de que a epidemia do novo coronavírus comprometesse seus planos futuros de reeleição, Bolsonaro resolveu detonar seu então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, que chegou como um desconhecido e ganhou notoriedade pela boa gestão nos primórdios dessa praga no Brasil.

Bolsonaro e Mandetta – Foto Isac Nóbrega/PR

Quando Bolsonaro, para espanto do país, por meros ciúmes e alguns de seus outros defeitos, demitiu Mandetta, ficou evidente que estava com medo do futuro. Seu inevitável próximo passo foi insistir na tentativa de mais de um ano de apagar o passado com tentativa de acordos com quem pudesse ajudar. Ganhou algum tempo com esse acordão com o ministro Dias Toffoli e o Centrão então coeso em torno de Rodrigo Maia. Perdeu validade meses depois, cassado pelo plenário do STF. E aí o pecado original voltou a ribalta.

Como Jair Bolsonaro e sua família não conseguiam explicações críveis para a verdadeira imobiliária de seu clã, alimentada por rachadinhas e outras granas em dinheiro vivo de origem confusa, e não tiveram cobertura das instituições federais, bateu desespero. De nada adiantou pressionar o ministro Sérgio Moro. Bolsonaro, então, resolveu correr seu maior risco ao forçar a demissão do pilar Sérgio Moro.

Sentiu logo o baque. Perdeu musculatura entre quem o apoiou como uma aposta no combate à corrupção. Mas, forçado pelo Congresso, ele já havia cedido a uma ajuda emergencial de R$ 600  a um amplo universo de brasileiros, alguns que nunca tiveram acesso a essa quantia que pode parecer pouco para outros mais bem remunerados. Foi um verdadeiro Fiat Lux. Isso lhe compensou a perda de popularidade com a saída de Moro, com a conquista de simpatia especialmente nos rincões do Nordeste, onde passou a surfar nas águas antes cevadas por Lula e o PT.

Além das ofertas de cargos e verbas, objetivos de sempre, era também tudo que o Centrão precisava para aderir de cabeça ao bolsonarismo. Assim eles se mantêm aonde sempre estiveram e Bolsonaro acredita que ganha um passe livre contra eventuais tentativas de impeachment, e até mais um possível apoio se ele conseguir chegar inteiro e tentar se reeleger em 2022.

Arthur Lira, um dos líderes do Centrão, na cerimônia de posse de Fábio Faria, no Planalto – Foto Orlando Brito

Mas isso é daqui a dois anos. Tudo pode desabar se os mesmos benefícios, que hoje trazem popularidade, forem suspensos durante esse percurso. O custo deles, resultado até agota de um esforço nacional para minimizar os estragos da pandemia, são incalculáveis. Pelas regras de sempre, quebram o país. Bolsonaro, porém, está convencido por seus conselheiros militares e o namoro com o Centrão que não dá para por pé no freio e desacelerar o processo.

A equipe econômica, grande trunfo do segundo pilar Paulo Guedes, faz tempo que está se sentindo rifada. A sensação entre eles é de que queimam seus cacifes em troco de nada, tudo empaca no Palácio do Planalto. Depois da vitoriosa reforma da Previdência, tudo pára quando chega na Casa Civil da Presidência da República.  Como nenhum deles precisa desse emprego, começaram a pular fora. A primeira e simbólica saída foi do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, tido como avalista da responsabilidade fiscal do governo.

O ministro Guedes e o deputado Maia – Foto Orlando Brito

Nessa terça-feira (11), em entrevista ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, Paulo Guedes resolveu pagar para ver as cartas de quem resolveu fritá-lo no Palácio do Planalto, em parceria com os vorazes membros do Centrão. Anunciou com estilo os pedidos de demissão do Secretário nacional de Privatização, Salim Mattar, que apenas enxugou gelo durante sua gestão, e do Secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, coordenador de uma proposta de reforma administrativa que desde 2019 continua em um escaninho  no Palácio do Planalto.

Paulo Guedes resolveu atirar antes mesmo de desembarcar do governo. Disse que sua reação a essa “debandada” na equipe vai ser tentar acelerar as reformas. Bravata. O que soou como sério foi a a advertência que ele fez ao chefe Bolsonaro de que, se ouvir seus conselheiros que defendem furar o teto dos gastos limitados pela Constituição, corre o risco de quebrar a cara. “Os conselheiros do presidente que estão sugerindo pular a cerca e furar o teto, vão levar o presidente para uma zona sombria, uma zona de impeachment de responsabilidade fiscal”. Diz Guedes que Bolsonaro está consciente disso.

O dilema de Bolsonaro, portanto, é se mantém os cofres públicos abertos para irrigar sua popularidade em áreas aonde nunca havia agradado ou se obedece a legislação e evita um processo de impeachment por pedaladas fiscais que, aliás, já derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff.

A conferir.

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